Engraçado, era sobre isso que estávamos eu e um amigo conversando ontem. Eu comentei que a febre da internet há muito já passou, sua potência revolucionária, seu êxtase de coisa totalitária e impactante. A meu ver, a internet, que tem seu ciclo evolutivo acontecendo numa maior rapidez que todos os outros fenômenos comuns entre mercado, comunicação e entretenimento, já chegou a um nível de estagnação, e agora enfrenta um equilíbrio já incapaz de criar novidades que a converte em seu cômodo papel de telégrafo aprimorado. Confessa: quantas vezes você acessa a net só por acessar, já sem tesão, sem um propósito intrínseco? A mim acontece isso todo dia. Parece que eu me lamento por não mais ser tão escravizado por ela, e fico um tanto desconcertado por vê-la não mais como uma dominadora opressiva de meu tempo. Eu desligo o computador e fico horas, ou o dia inteiro, sem sentir qualquer síndrome de abstinência, e isso não é porque eu já sou um dissoluto do sistema ou um ranheta que se acha anti-moderno, pois eu constato essa mesma afasia em várias pessoas de meu convívio. Todos sabem que os esperam por detrás da tela ligada os mesmos emails, as mesmas fotos para compartilhar, o mesmo disco insosso para o download, a mesma conversa fiada e a mesma pretensão de bairro. Eu jurava que o Facebook era o avião do século, uma descoberta inexorável, e hoje vejo comprovadas as teorias de tal sociólogo que disse que ninguém mais vai se lembrar do Facebook daqui a dez anos. Talvez seja exagero e o face dure ainda uns 15 anos, mas se transforme nesse animal jurássico discriminado até pelos mais ardorosos paleontólogos, como o Orkut. Você tem a companhado as notícias sobre os fracassos sucessivos do face, não? O quanto tem perdido de lucro, gente como a General Motors retirando seus patrocínios por encarar a cada vez mais falta de interesse do mercado de publicidade pelo produto.
Fantástico comentário, Charlles. Minha dúvida é a interpretação contrária que faço desse sentimento de acessar sem tesão que você citou. Quando faço isso, ao contrário de você, me sinto mais escravizada do que nunca. Sei que poderia estar lendo um livro, aproveitando o dia e muitas outras coisas, mas algum lugar em mim prefere e me mantém presa à essa rotina de fotos e compartilhamentos inúteis.
Tenho uma amiga de mais idade que é novata por aqui, e mal abre o computador. Quando o faz, ela me enche de pps e mensagens fofinhas. Pra mim, cada coisa dessas é mais uma perda de tempo, é mais um arquivo como tantos outros com música melosa e imagens. Mas a ela isso ainda encanta e emociona. Ela me manda sentindo que realmente está me dizendo aquelas coisas. Vejo nela um maravilhamento que perdemos, e que de certa forma era bonito. Tudo agora nos parece repetitivo - a mensagens e as fotos, ainda que diferentes, nos parecem todas iguais.
Engraçado, era sobre isso que estávamos eu e um amigo conversando ontem. Eu comentei que a febre da internet há muito já passou, sua potência revolucionária, seu êxtase de coisa totalitária e impactante. A meu ver, a internet, que tem seu ciclo evolutivo acontecendo numa maior rapidez que todos os outros fenômenos comuns entre mercado, comunicação e entretenimento, já chegou a um nível de estagnação, e agora enfrenta um equilíbrio já incapaz de criar novidades que a converte em seu cômodo papel de telégrafo aprimorado. Confessa: quantas vezes você acessa a net só por acessar, já sem tesão, sem um propósito intrínseco? A mim acontece isso todo dia. Parece que eu me lamento por não mais ser tão escravizado por ela, e fico um tanto desconcertado por vê-la não mais como uma dominadora opressiva de meu tempo. Eu desligo o computador e fico horas, ou o dia inteiro, sem sentir qualquer síndrome de abstinência, e isso não é porque eu já sou um dissoluto do sistema ou um ranheta que se acha anti-moderno, pois eu constato essa mesma afasia em várias pessoas de meu convívio. Todos sabem que os esperam por detrás da tela ligada os mesmos emails, as mesmas fotos para compartilhar, o mesmo disco insosso para o download, a mesma conversa fiada e a mesma pretensão de bairro. Eu jurava que o Facebook era o avião do século, uma descoberta inexorável, e hoje vejo comprovadas as teorias de tal sociólogo que disse que ninguém mais vai se lembrar do Facebook daqui a dez anos. Talvez seja exagero e o face dure ainda uns 15 anos, mas se transforme nesse animal jurássico discriminado até pelos mais ardorosos paleontólogos, como o Orkut. Você tem a companhado as notícias sobre os fracassos sucessivos do face, não? O quanto tem perdido de lucro, gente como a General Motors retirando seus patrocínios por encarar a cada vez mais falta de interesse do mercado de publicidade pelo produto.
ResponderExcluirFantástico comentário, Charlles. Minha dúvida é a interpretação contrária que faço desse sentimento de acessar sem tesão que você citou. Quando faço isso, ao contrário de você, me sinto mais escravizada do que nunca. Sei que poderia estar lendo um livro, aproveitando o dia e muitas outras coisas, mas algum lugar em mim prefere e me mantém presa à essa rotina de fotos e compartilhamentos inúteis.
ExcluirTenho uma amiga de mais idade que é novata por aqui, e mal abre o computador. Quando o faz, ela me enche de pps e mensagens fofinhas. Pra mim, cada coisa dessas é mais uma perda de tempo, é mais um arquivo como tantos outros com música melosa e imagens. Mas a ela isso ainda encanta e emociona. Ela me manda sentindo que realmente está me dizendo aquelas coisas. Vejo nela um maravilhamento que perdemos, e que de certa forma era bonito. Tudo agora nos parece repetitivo - a mensagens e as fotos, ainda que diferentes, nos parecem todas iguais.