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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Era no tempo do rei

Eu nunca havia ouvido falar nesse livro de Ruy Castro, autor de biografias famosas como Estrela Solitária - um brasileiro chamado Garrincha e O anjo pornográfico, sobre Nelson Rodrigues. Era no tempo do rei: um romance da chegada da Corte não é um livro ambicioso. Imagino que Ruy Castro havia pesquisado esse período, por conta de algum projeto mais ambicioso e sério, e conhecer tantos personagens reais e interessantes fez com que ele tivesse vontade de dividir essas informações. Que outra maneira havia de tornar públicas vidas como as do major Vidigal e da prostituta Bárbara dos Prazeres? É um livro que eu faria meus alunos lerem, se eu fosse professora de história. É divertido, leve e informativo.

Em menos de dois anos por aqui, Blood ficara rico exportando produtos brasileiros convencionais, como café, cachaça e pimenta - e podre de rico com a vasta fauna patrícia que despachava para animar os salões da Europa: papagaios, micos, catinguelês, cágados, tamanduás, onças e lobos-guarás, além de uma formidável passarada, com espécimes dos mais diversos feitios, tamanhos, cores, formato de bico, comprimento de cauda e estilo de canto. Os campeões de venda em suas exportações, no entanto, eram os macacos, disputados em algumas cortes européias por sua aptidão para catar piolhos humanos. Mas tudo que voasse, corresse ou rastejasse caía nas arapucas dos caçadores de Blood, e os navios com suas cargas, que zarpavam quase toda semana para Liverpool, deixavam no chinelo a Arca de Noé.
Quando esses navios voltavam ao Rio, traziam âncoras, banheiras, fogões, cofres, caldeiras, bigornas e toda espécie de ferragem de segunda mão, fabricada na Inglaterra, que Blood vendia a peso de ouro para o incipiente mercado brasileiro. O resultado é que, em algumas regiões do Brasil, já havia uma praga de formigas, pela súbita escassez de tamanduás. Em compensação, em cada casa havia uma bigorna pronta para ser usada, embora nem todos soubessem para o que servia.
p.20-21

O livro conta uma aventura de Dom Pedro, com doze anos, e seu alter-ego pobre, Leonardo. A aventura em si é um mero pretexto para nos fazer conhecer um pouco o Rio de Janeiro do período. O livro fala da família real, das suas disputas, segredos de alcova, aparência física e muitos outros detalhes idiossincráticos e interessantes. Ele desmente a imagem que temos de Dom João, como um imperador inútil e burro, e nos faz entender de onde e com que interesse essa imagem foi forjada. Além disso, conhecemos um pouco dos costumes da época e personagens que o autor faz questão que saibamos que realmente existiram. O livro é baseado em tantos fatos reais, que num determinado ponto não sabemos o que é realidade e o que é ficção. No fim, isso não tem a menor importância: sem sentir, estudamos um pouco e nos divertimos com a história do Brasil.

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