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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Nós, robôs - datados

O livro Nós, Robôs me decepcionou um pouco, depois da expectativa criada pelo excelente Eu, Robô. Nós, Robôs é uma coletânea dos muitos contos sobre o tema robótica que Asimov escreveu ao longo dos anos. Lá estão os robôs da U.S. Robôs, a especialista em robopsicologia Susan Calvin e os solucionadores de problemas Gregory Powel e Michael Donavan. As histórias deles são as melhores, e aparecem repetidas nos dois livros - o que é muito chato quando a gente se propõe a lê-los num curto espaço de tempo. No início, Asimov faz questão de nos informar que criou o termo robótica sem querer, porque na época dele não existia nem a necessidade do termo. Os livros dele são recheados de termos não existentes - uma necessidade quando se escreve ficção científica - e como esse trata de robôs o termo inventado onipresente da vez é cérebro positrônico. Cérebro positrônico é uma tecnologia que permite aos robôs ter cérebros semelhante ao dos humanos, só que eletrônico. Sua grande inovação tecnológica seria capacidade de aprender, embora a obediência às Três Leis da Robótica os torne confusos às vezes. Por isso a necessidade de uma robopsicóloga.

Eu, Robô consegue ser interessante e coerente, porque o ponto comum das histórias é investigar a maneira como robôs em interpretam e se adaptam aos três princípios. Sem esse fio condutor, Nós, Robôs evidencia duas noções à estranhas nossa época, e que considero datadas: computadores como grandes calculadoras e a recusa das pessoas comuns em lidar com robôs.

- Este computador que vêem à sua frente - ia dizendo ele - é o maior do seu tipo, no mundo. Contém cinco milhões e trezentos mil criotrons e é capaz de manipular simultaneamente mais de mil variáveis. Com sua ajuda, a U.S. Robôs pode projetar com precisão os cérebros positrônicos dos novos modelos.
- Os requisitos são introduzidos por meio de fita, perfurada por meio deste teclado, algo como uma máquina de escrever super complicada, exceto que não mexe com letras, mas com conceitos. Os enunciados são divididos em seus equivalentes lógicos, e estes, em padrões perfurados.
Lenny p. 309

Como Asimov estava tentando projetar o futuro, ele não podia ter muita idéia de certos avanços tecnológicos. Os cartões perfurados são a tecnologia que se usava quando o conto foi escrito, nos anos 70, e foi uma revolução na época. Essa é a mesma tecnologia que a IBM forneceu à Alemanha nazista e permitiu a classificação dos judeus.

- As aplicações seriam infinitas, professor. O trabalho robotizado tem sido usado apenas para o alívio do esforço físico. E não há esforço mental supérfluo? Um professor, capaz do mais útil pensamento criativo, é forçado a passar duas semanas trabalhosamente conferindo as letras impressas; ofereço-lhe uma máquina que pode fazer o trabalho em trinta minutos. Isso é ninharia?
Escravo p. 327

Ler essas diferenças nos faz tomar consciência do avanço tecnológico que tivemos em poucas décadas. Meu irmão mais velho se interessava por computadores e ganhou um TK85 nos anos 80. O teclado tinha uns vinte centímetros e as teclas eram emborrachadas, nada ergonômicas. Eu não entendia como alguém podia se interessar por algo que dava tanto trabalho pra tão pouco resultado. Ele passava horas digitando 101010 pra conseguir fazer o desenho de uma árvore feiosa, mais ou menos assim:

............1...........
..........111..........
........11111........
......1111111.......
....111111111.....
..111111111111..
..........111..........

- (....) A ciência da automação certamente já atingiu o ponto em que a sua companhia poderia projetar uma máquina, um computador ordinário de tipo conhecido e aceito pelo público que corrigiria provas.
- Estou certo que poderíamos, mas uma máquina assim exigiria que as provas fossem traduzidas em símbolos especiais ou, pelo menos, transcritas em fitas. Quaisquer correções emergiriam em símbolos. Precisariam manter gente empregada para traduzir palavras em símbolos, e símbolos em palavras. Ademais, um tal computador não poderia fazer nenhum outro trabalho. Não poderia preparar o gráfico que tem em mãos, por exemplo.
Escravo p. 331

De um lado você tem computadores que fazem muito pouco, e de outros robôs com aparência humanóide que podem simular até amor. Nesse contraste, as pessoas comuns das histórias mais antigas de Asimov resistem aos robôs e há todo um trabalho por parte da U.S. Robôs em mostrá-los confiáveis. Deve ser realmente um choque pra quem não tem contato com tecnologia se imaginar na frente se um ser humano de ferro. Hoje sabemos que não é assim porque estamos inseridos na tecnologia; nem ao menos temos como recusá-la ou temê-la. Com a visão que temos hoje sobre o assunto, os pressupostos de algumas histórias em Nós, Robôs não são mais válidos ou ficam até ridículos.

- Máquinas de escrever e prensas removem alguma coisa, mas o seu robô privar-nos-ia de tudo. Seu robô assumiu as provas. Logo este ou outros robôs assumirão os originais, a pesquisa de material, a verificação cruzada de citações, talvez mesmo a dedução de conclusões. O que restaria ao estudioso? Só uma coisa: as decisões estéreis sobre que ordens dar ao robô seguir! Quero salvar as futuras gerações do mundo acadêmico de tal inferno. Isto significa mais para mim do que minha reputação, e assim parti para destruir a U.S. Robôs por quaisquer meios.

Escravo p. 354

Tendo isso em vista, algumas histórias são muito interessantes e outras menos. Eu recomendaria Nós, Robôs apenas para fãs, para quem já foi conquistado por Asimov.

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