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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dois insights sobre a fama

Mozart morreu com a certeza de que tinha sido um fracasso, porque sua música não fazia sucesso no círculo que ele esperava que fizesse, a corte de Viena. Enquanto isso, em outras cidades da Europa, suas óperas alcançavam sucesso e se tivesse vivido um pouco mais, possivelmente Mozart teria sido aclamado ainda em vida. O que me parece interessante nessa história é perceber que a noção de sucesso e fama não existe de maneira absoluta; ela está ligada, principalmente, ao reconhecimento dos que nos estão próximos, ou daqueles cuja opinião valorizamos (que nem sempre são o mesmo grupo). É possível alegar que hoje, com a internet e a televisão, as coisas tenham mudado e a repercurssão nesses meios mostre a verdade. Quando lembro da surpresa da Amy Winehouse ao receber o Grammy, não me parece que as coisas sejam assim tão claras.



O vídeo mostra a performance toda do Grammy. A partir do minuto 5:49, o anúncio do prêmio e a reação de Amy.


Pesquisas, cópias vendidas, referências no Google e todos os outros dados são apenas números. A percepção que cada um tem do seu reconhecimento é dado pelas pessoas que lhe são próximas. Uma possível fama num país distante, com pessoas que nunca vistas, é muito abstrata. Lucélia Santos, graças à primeira versão da novela Escrava Isaura, era muito conhecida na China e aqui ninguém ficou sabendo. Apesar de tantas mudanças, se sentir famoso ainda é o calor do contato humano, é ser reconhecido nas ruas e dar autógrafos. É possível que se sinta mais famoso alguém conhecido na sua cidadezinha do que um autor ou um blogueiro com muitos leitores que jamais conhecerá.



Depois de um vídeo aparecer no Te dou um dado, Lucas Celebridade realmente se tornou uma celebridade, pelo menos nos meios virtuais. Esse video gerou um vaquinha que reformou a casa dele.


Outra coisa que me chamou a atenção foi a entrevista do cantor Lobão ao portal UOL. Como era um programa ao vivo, para manter a interatividade, o entrevistador Mauricio Stycer a todo instante lia mensagens dirigidas ao cantor. Todas faziam referência ao fato dele ser "muito loco", "surtado" e coisas desse teor. O próprio cantor se irrita com isso. Então ele declara (37:08): "Você não consegue ter uma interlocução. O cara que te detesta, ele não entende porra nenhuma. Geralmente o cara que te gosta, te gosta pelo motivo mais equivocado do mundo. Então não há forma de solidão mais cruel do que estar no meio desse tiroteio.". Ser famoso, nesse sentido, é ser também muito desconhecido. Ter o nome e o rosto reconhecido não quer dizer que as pessoas têm noção do que você faz, ter fãs não quer dizer que eles saibam realmente quem você é. Conheço uma frase, atribuida a várias pessoas diferentes - ou seja, a frase se tornou mais famosa que seu dono - que diz que a fama é uma série de equívocos em torno do nome de alguém.

3 comentários:

  1. Não tenho certeza de que concordei com aquele post sobre Mozart. Afinal, tenho apenas leituras esparsas, mas sua correspondência com Nannerl indicaria um certo desprezo por seus contemporâneos que englobaria boa dose de admissão da própria importância.

    Mas o assunto é bom, boníssimo, e talvez ele não fosse tivesse emplacado definitivamente por ser MUITO CONHECIDO.

    Acho que o furo de Mozart é mais embaixo. Ele dá a impressão (falsa) de não mudar muito de obra para obra, é muito reconhecível. Nunca se reinventou radicalmente, apenas evoluiu. Foi certamente um injustiço, mas sei lá, entende?

    E já pro Sul21!

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  2. Milton,
    Elias fala desse desprezo e o explica da seguinte forma - a convivência com as cortes desde cedo gerou nele um sentimento grande de importância pessoal. Mais tarde, o romantismo fala do sentimento de igualdade entre os homens como elemento de desvalorização dos valores cortesãos. Sentimento esse que Beethoven compartilharia. Mozart se vê como mais importante do que elas unicamente em função de seu talento musical. Ele abraçava os valores cortesãos, embora acreditasse que aquilo não se aplicasse a ele, por seu talento. Será que consegui explicar?

    No livro, Mozart aparece como um grande erudito. Elias relembra que naquela época os instrumentistas não tinham acessos a obras de outros países. Mozart teve o privilégio de conviver em aprender com os melhores de sua época por causa das viagens que fez quando criança. Mas, musicalmente, foi bastante tímido ao romper com o que estava sendo feito. Um desses indícios é a sua preferência por óperas. No livro, isso é explicado em função do papel de transição que ele tem. Se deveria ter rompido mais, se existem outros exemplos, é algo que não me atrevo a opiniar porque meu conhecimento musical não chega a tanto.

    E vi que foi pro Sul21, obrigada!

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  3. Complicado essa questão da fama, mas eu sempre achei que é muito mais importante se sentir reconhecido por seus pares do que ser reconhecido por um grupo maior.

    Tem gente que dá valor justamente ao contrário...

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