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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sex and the city, o livro

Como gosto de ler e gostei da série Sex and the City, meu irmão me deu o livro de presente de aniversário. Antes da página 20, já estava à procura da etiqueta de troca. Na série elas estão sempre cercadas de marcas e lugares badalados, mas no livro a ênfase é diferente. Elas são essas marcas e lugares. No livro tudo gira em torno de locais e status. Para a autora, Nova York gerou mulheres tão ricas, independentes e consumistas, que elas estão condenadas a serem solteiras. Até aí vá lá. O que me irritou é a glamurização da vida cercada de drogas, dinheiro e sexo casual.

Depois do chá-de-panela, e depois de dar um telefonema ao novo namorado, Mr. Big, Carrie foi ao Bowery Bar. Samantha Jones, a produtora de filmes quarentona, estava lá. A melhor amiga de Carrie. Às vezes.

Como não tinha etiqueta de troca (meu irmão tem essa péssima mania), continuei lendo. Aí vi que não era nada disso, o livro traça um retrato sincero do estilo de vida dessas pessoas. E sabemos que a sinceridade é a coisa mais cruel que existe.

- Já estamos de saída - disse Samantha - Vamos precisar encontrar um novo programa.

E encontraram. O Baby Dolls Lounge. Boate de strip-tease em TriBeCa. Não houve jeito de fazer Barkley sair do pé de Samantha, portanto o deixaram ir junto. Além disso, ele tinha maconha. Fumaram no taxi, e quando saíram no Baby Doll Lounge, Sam agarrou o braço de Carrie (Sam quase nunca fazia isso) e disse:

- Eu realmente quero saber como vai seu romance com Mr. Big. Não sei se ele é o homem certo para você.

Carrie precisou pensar se queria responder ou não, porque sempre pintava esse clima entre ela e Sam. Logo quando ela estava feliz com um homem, Sam vinha com essas dúvidas como se enfiasse um pé-de-cabra entre dois pedaços de madeira. Ela disse:

- Sei lá, acho que sou louca por ele.
Sam replicou:
- Mas ele realmente te valoriza? Sabe o valor que eu sei que você tem?

Carrie pensou: "Algum dia a Sam e eu vamos dormir com o mesmo homem, as duas juntas, mas não hoje".

Sim, as personagens são bem diferentes no livro. O livro é uma mistura de histórias e pessoas, não está centrado na figura das quatro amigas. Na série misturaram profissões, reuniram histórias, retiraram o excesso de drogas. Pasmem, até mesmo o sexo - casual, bissexual, grupal, e várias coisas pra qual nem existem termos - foi retirado. Ou seja, as amigas que amamos e nos identificamos não tem nada a ver com as personagens do livro.

-Somos todos umas porras de uns gênios - disse Carrie. E seguiu para o banheiro. Foi preciso passar por uma minúscula fresta entre dois palcos e depois descer um lance de escadas. O banheiro tinha uma porta de madeira cinza que não fechava direito e azulejos quebrados. Ela pensou em Greenwich. Casamento. Filhos.

Ainda não estou pronta, pensou.
Subiu as escadas, tirou as roupas, subiu no palco e começou a dançar. Samantha a olhava fixamente, rindo, mas quando a garçonete se aproximou e educadamente lhe disse para descer, Sam havia parado de rir.

As personagens tem um certo ar de auto-destruição. Eu, que sempre fui responsável até demais, não tenho empatia por elas. Em meio a tudo isso, Mr. Big parece ser o mais sensato. O que explica o porquê de sua relação com a Carrie não engrenar nunca.

No dia seguinte, Mr. Big ligou às 8 horas. Ia jogar golfe. Parecia tenso.

- A que horas você chegou em casa? - perguntou ele - Aonde você foi?
- Não cheguei muito tarde. - disse ela - Fui ao Bowery. Depois a um outro lugar. O Baby Doll Lounge.
- Ah, é? Fez alguma coisa diferente por lá?
- Não, acho que não - disse Carrie, fazendo aquela vozinha infantil que usava quando queria amansá-lo. - E você?
- Recebi um telefonema hoje de manhã - disse ele - Alguém me disse que te viram dançando sem blusa no Baby Doll Lounge.
- Ah, foi? - disse ela - Como sabiam que era eu?
- Sabiam.
- Está zangado?
- Por que não me disse? - indagou ele.
- Está zangado?
- Estou zangado por não ter me contado. Como é que pode não ser sincera com alguém que esteja namorando?
- Mas como é que eu sei se posso confiar em você? - indagou ela.
- Acredite, eu sou o único cara em quem pode confiar.
E desligou.
(pág 118 - 120)
Publicado inicialmente no Caminhante Diurno/ junho 2009

4 comentários:

  1. Eu comecei a ler o livro mas parei antes da página 20, acho que agora vou dar outra chance.

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  2. As primeiras páginas são insuportáveis mesmo!

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  3. Eu queria comprar o livro pra ler, mas tenho medo de ler e perder a magia que sex and the city [seriado e filme] tem. Há alguns anos atrás, como era louca pelo filme O diabo veste Prada, resolvi ler o livro e o amor acabou, defino o livro em apenas uma palavra: broxante.

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    1. Olhe, Anne, pra mim foi a mesma coisa. Eu amava Sex and the city e ficou outra coisa pra mim depois que li o livro...

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