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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As emblemáticas mulheres de Mad Men I

A série Mad Men, ambientada nos anos 60, gira em torno da figura de Don Draper e o mundo da publicidade. É um meio machista, um ambiente de trabalho onde as mulheres servem os homens sexualmente e/ou como secretárias. Em meio àqueles homens poderosos, é possível perceber as estratégias de poder permitidas às mulheres da época. Elas não podiam aspirar os mesmos cargos que eles, o que não quer dizer que não possuíam sua própria maneira de influenciar nas decisões. Aqui destacarei alguns dos caminhos escolhidos pelas mulheres retratadas na série. Para quem não assistiu Mad Men, quer assistir e não gosta de spoilers, recomendo não prosseguir na leitura.


Betty

Impossível não olhar para Betty sem admiração, sem reparar o quanto ela é linda. Para quem assiste a série de olho no visual, nos penteados e nas roupas, Betty representa o que há de mais bonito no período. Ela usa os melhores vestidos, tem o cabelo impecável, e até mesmo sua maneira de fumar é charmosa. Ela não é apenas um ideal de beleza, como representa um ideal de mulher. Bem nascida, foi mimada pelos seus pais para ser uma boneca. Como esposa de Don Draper, contribuía para formar dele a imagem de homem de sorte e bem sucedido, por ter ao seu lado uma mulher que se mantém linda apesar de já ter filhos, que mesmo diante das crises sempre sabe se portar com discrição. É esse encanto que a torna desejada por todos que a conhecem, que permitem que ela obtenha o que quer sem ter que fazer esforço. Ela é "mulher pra casar"

Só que por detrás de toda essa imagem de perfeição, logo no início da série ela nos é apresentada como uma mulher angustiada por algo que ela mesma desconhece. Para quem esta de fora, é fácil identificar o motivo: Betty leva uma existência vazia. A inveja incontida que ela tem na desquitada da vizinhança, sua solidão, seu desejo de ser admirada, mostram a decepção que ela sente com o papel que lhe é reservado. A solução para isso é mandá-la a um psiquiatra, porque sua insatisfação parece sem sentido. O que mais uma mulher poderia desejar, além de um casamento próspero e filhos? Ela tampouco está disposta a questionar a vida que leva. A tentativa de lidar com suas angústias a levam a tentar novamente a carreira de modelo (para desistir rapidamente) e flertar com a idéia de trair Don. Ela provoca sutilmente os homens, mas não ultrapassa os limites, porque o papel de mulher perfeita também lhe é muito caro.

O casamento de Betty com Don nunca foi satisfatório, embora ambos tenham demorado pra se conscientizar disso. Ele sempre a traiu, com mulheres fortes e independentes, totalmente diferentes de Betty. Ela, por outro lado, parecia projetar todas as suas necessidades nele, e agia como uma criança que só faz o que quer. O sucesso financeiro de Don permitiu a Betty ter toda aparência que sempre quis; mas descobrir sua traição e sua verdadeira origem (muito pior do que ela poderia imaginar), destruíram esse pacto de maneira irremediável. Somente a partir daí ela consegue se sentir livre para buscar outro homem (e não outra alternativa). Graças a Henry Francis, ela consegue pular de um casamento a outro sem passar pelas dificuldades financeiras e falta de prestígio do desquite. Só que Henry, ao contrário de Don, é um homem mais velho e mais bem resolvido. Ele não demora a perceber que casou com uma mulher mimada e incoerente. Somente ao se casar de novo ela parece perceber que o problema não era Don e sim que o que ela busca não existe.

A pessoa difícil por detrás da aparência de perfeição fica muito clara na relação que Betty tem com os filhos, especialmente com a filha. Ela sempre foi intolerante e agressiva diante de qualquer desobediência, como se não suportasse que algo fosse diferente do esperado. Ela tenta recriar com Sally, sua filha mais velha, o mesmo ideal de comportamento e beleza que recebeu de seus pais. Só que o temperamento forte da filha prejudicam cada vez mais os seus projetos, o que torna a relação entre as duas uma guerra silenciosa, onde Sally sempre sai perdendo. É de cortar o coração ver a angústia de menina, visível a todos que a cercam, mas que não pode ser impedida porque tem como fonte sua própria mãe. É na filha que Betty demonstra toda insatisfação, toda agressividade que ela reprime. Ser uma mulher perfeita tem seus custos.

4 comentários:

  1. Um dos fatores que levou Betty a se separar do marido foi perceber que ele não era mais o homem forte e provedor que ela achava que ele era. Don se mostrou frágil, e ela não consegue ser forte para alguém. Ela é a boneca, para ser cuidada.

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  2. Exato, excelente complementação.

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  3. Fátima Avila6:47 AM

    Ótima análise da personagem! Em minha opinião Mad Men foi a melhor série produzida nos Eua nos últimos tempos. A crítica social ao modelito anos 50 e 60 do casamento é ótima. Além disso, mostra o contexto da sociedade americana do período, que o Brasil ainda tenta reproduzir.
    Aliás, adoro teus textos do blog Caminhante Diurno. Seguidamente divulgo-os! Abraço!

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  4. Também sou entusiasta de Mad Men, Fátima. Pela história, a crítica, o capricho da produção, personagens bem construídos. Obrigada pelo comentário e por ser leitora dos blogs!

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