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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Profissional da ajuda

Há quem brigue comigo quando descobre que sou formada em psicologia e optei por não exercer. É como se eu fosse um padre que abandonou a batina. Comparar meu abandono da psicologia com um sacerdócio faz sentido porque as pessoas que costumam brigar comigo, coincidência ou não, são ligadas a crenças religiosas ou místicas. Para elas, a psicologia é uma grande oportunidade de ajudar o próximo, um karma grande e nobre a ser queimado, e deixar isso de lado é esquecer do propósito mais alto que deveria reger minha vida.

Estava tendo a última conversa com aquele espírita, que seria a última justamente por ele não aceitar minha posição. Ele estava tentando me convencer a ser psicóloga. Eu aleguei falta de vontade, de vocação, descrença e todos os meus motivos. Muitos argumentos depois, ele então aceitou que eu não quisesse viver disso - mas então que eu fosse psicóloga num serviço voluntário, meia hora que fosse, uma vez por semana? Tive que concordar que isso era razoável (nós nos conhecemos justamente num serviço voluntário). Aí eu lhe apontei a questão legal, que eu não tenho e nunca tive CRP (registro no conselho profissional), e que seria ilegal me apresentar como psicóloga. Aí ele me disse que se eu me oferecesse a uma instituição, e pedisse a essa instituição me pagar apenas o correspondente a esse valor do CRP, para ir lá conversar, que seja, meia hora por semana com um menor de rua. Aí eu levantei a questão:

- Não tenho nada contra fazer esse serviço voluntário, mas porque eu precisaria me apresentar como psicóloga pra isso? Não bastaria eu chegar lá, eu mesma, com o conhecimento que tenho e conversar com o menino? Por que eu teria que fazer isso me apresentando como psicóloga, de crachá e de guarda-pó? Faz tanta diferença assim?

Pra ele fazia. Ele não soube explicar o porquê, mas continuou insistindo que eu deveria ir como psicóloga. Eu acho que o que ele mesmo não soube explicar é o poder do guarda-pó, do diploma, das instituições. Ele acreditava que tudo isso daria um peso às minhas palavras que normalmente elas não teriam. Talvez fosse muito mais isso do que eu, como pessoa, que pudesse ajudar o tal menino. Pessoalmente, discordo dessa posição. Acho que temos nos iludido demais com diplomas, com capacitações, com currículos. Isso é confundir forma com conteúdo, é confiar mais no certificado do que na coisa em si.

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