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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Viúvas na Índia

Li o Mahabharata porque cresci admirando o hinduísmo. Esse livro representa para os indianos o mesmo que a Bíblia para o resto do ocidente, com a vantagem de ser muito mais interessante. Uma das muitas histórias da complexa trama familiar do Mahabharata é a do rei Pandu.

O rei Pandu estava na floresta quando viu dois cervos se acasalando. Ele os acerta com as suas flechas. Só que o cervo, na realidade, era filho de um poderoso asceta. Ele (o filho) e sua esposa haviam se transformado em cervos pra ter um filho. Indignado com a crueldade do rei, o sábio/cervo lhe rogou uma praga: que no dia que Pandu cedesse ao seu desejo sexual, morreria. Desesperado, o rei decide viver sozinho na floresta. Mas suas duas esposas, Madri e Kunti, decidem acompanhá-lo e viver também uma vida de austeridade. A Rainha Kunti havia recebido do sábio Dvrvasa o dom de invocar um semi-deus e ter filhos através dele, e o uso desse dom permitiu a ela e a Madri continuar a linhagem dos Pandavas. Mesmo sendo uma pessoa de grande bondade, sabedoria e controle, o rei Pandu era humano*...

A floresta amável estava viva, com frutas e flores a desabrochar, e palmeiras, esplendorosos caramanchões, manga e campaka celestial. O cenário colorido cintilava com o frescor da Primavera, rios e lagos cheios de lotus, e enquanto Pandu contemplava a floresta, o intrometido Cupido surgiu em seu coração.
Vestida em trajes brilhantes, Madri viu Pandu desportivo como um semideus, sua bela face inspirava afeição, e ela seguia atrás dele. Pandu observava sua jovem esposa, em seu fino vestido, caminhando ao longo, e seu desejo agora crescia como um fogo que arde das profundezas do seu combustível. Sozinho com Madri naquele vale isolado, Pandu viu o mesmo fogo queimando no coração de Madri, e ao fixar-lhe nos olhos amáveis, ele não pôde controlar seu desejo, pois tomara conta de toda sua vida.
Nessa floresta secreta o monarca segurou sua esposa à força. A deusa torceu-se e lutou com toda sua energia para impedi-lo, mas o desejo já o havia possuído, e Pandu nada lembrava da maldição. À força ele foi para cima de Madri no ato de amor.

O rei morre logo depois de satisfazer seu desejo e Madri assume a culpa de tê-lo feito ceder - quem mandou ser tão jovem e bonita? Então, pede para Kunti cuidar dos seus filhos e decide se juntar ao rei na pira funerária.

O problema é que por fazer parte de um livro sagrado, essa história passou a servir de modelo e inspiração. Na Índia é costume que as esposas sejam queimadas ao lado do marido. Tenho certeza de que é para repetir o sacrifício da rainha Madri.



* A descrição que tenho, de Willian Buck, não comete a liberdade imperdoável de colocar o Cupido no meio da história. Mas esta é melhor.

2 comentários:

  1. Olha que por aqui também tem umas que querem ir junto com falecido.

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  2. A Véia do Blog8:37 AM

    Que história, hein...

    Mas o que gostei mesmo foi de "o fogo que arde das profundezas do seu combustível" rsrs

    Saudades!!

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