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domingo, 19 de junho de 2011

Alguns problemas sobre as drogas

A questão das drogas está novamente na moda, e é muito difícil discutí-la. É difícil saber definir o que são drogas - é o que causa viagem? É o que cria dependência? É o que causa prejuízos sociais? Existe a questão do que preenche os requisitos e é legalizado, enquanto outras substâncias podem causar efeitos menores e são proibidas. Nesse ponto, vemos a questão da tradição - o que estamos acostumados a consumir e considerar inocente - e de toda uma indústria que existe e lucra com o consumo de algumas coisas. Existe a questão da dosagem, do quanto é necessário consumir para os efeitos serem negativos. Há a discussão sobre a capacidade do indivíduo de se negar, ou caso ele opte por não se negar, sobre a sua capacidade de não se viciar. Nesse ponto entra a questão do livre arbítrio, do quanto é possível informar e do quanto esse nível de informação torna o sujeito responsável por suas ações. O que ninguém nega é a existência do vício, seus prejuízos, e que é muito mais salutar para a sociedade diminuir (ou anular) a quantidade de indivíduos químico-dependentes. Ou seja, que a droga é um mal.

Por ela ser um mal, fazemos campanhas de combate às drogas, acreditamos que adolescentes entram no mundo das drogas por causa das más companhias. Que às drogas cabe dizer não, porque é possível entrar num caminho sem volta. Os que conseguem sobreviver nos relatam o inferno que suas vidas se tornaram, a perda de tudo que lhes era importante e o difícil caminho da reconstrução. Caminho esse que geralmente envolve uma conversão religiosa. Do Estado esperamos repressão total - entendemos ações violentas como parte do processo e condenamos quando se mostra fraco diante do poder do tráfico. Nessa luta do bem contra o mal, a alternativa de descriminalizar o uso soa a alguns como uso indiscriminado, aprovação e compactuação com o vício. Como se de alguma forma fosse preciso dizer sempre não, que a única alternativa moralmente correta seja a de proibir - qualquer coisa diferente disso seria imoral. Parece que o Estado assume o mesmo dilema dos pais no que diz respeito às coisas erradas: impedir o acesso até chegar à maturidade ou deixar conhecer sob a sua supervisão? Essa demonização também merecia ser revista, o quanto ela impede ou serve de estímulo para o que queremos evitar.

A questão das drogas me parece um exemplo dramático da dificuldade de escolher (ou conciliar) as duas éticas weberianas: a ética da convicção e a ética do esclarecimento. Proibir as drogas está de acordo com nossas crenças de que elas são nocivas, perigosas, más. Na ética da convicção, ao colocarmos as drogas como poderosas e ruins, entendemos que o melhor é impedir seu acesso, formar aparelhos repressores físicos e morais para impedirem os indivíduos de consumi-las. Na ética do esclarecimento, nos apoiamos nos dados que apontam o fracasso continuado das campanhas, reconhecemos o uso, a vontade de experimentar e que talvez seja inevitável que alguns trilhem um caminho de auto-destruição através delas. Apesar de reconhecer nela um mal, agimos de maneira a evitar que o uso de drogas se associe à violência, clandestinidade e doenças. E pra isso permitimos algo, com o pressuposto de que seria usado de qualquer forma. Como Weber aponta, nenhuma das duas éticas é melhor do que a outra e nem funcionam de maneira absoluta. Encontrar a maneira de conciliá-las, de maneira a causar o menor dano possível, é o grande desafio.

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