tag:blogger.com,1999:blog-77324589197914593452024-03-19T01:52:42.306-03:00Caminhando por foraCaminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.comBlogger177125tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-58649584386477324702012-12-20T07:52:00.002-02:002013-06-01T16:36:09.472-03:00Mudança de endereçoEste site agora faz parte do Sul21. Nova embalagem e mesmo sabor, atualizem sua lista de favoritos:<br />
<a href="http://www.blogger.com/goog_1032635299"><br /></a>
<a href="http://caminhandoporfora.sul21.com.br/">http://caminhandoporfora.sul21.com.br/</a>Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-39636516693625365922012-12-06T18:30:00.000-02:002012-12-11T12:34:46.292-02:00Um depoimento sobre Niemeyer<div style="text-align: justify;">
Conta meu pai da época que ele morava em Brasilia, em plena ditadura militar, que arrumaram um pretexto para processar o Niemeyer, afinal ele mais que incomodava o regime só por existir. A desculpa seria averiguar se havia enriquecimento ilícito sobre seus bens, uma vez que ele foi funcionário público e não poderia ter alguns imóveis que possuia a epoca só com o seu soldo. O ridículo da situação é de que, além de nunca ter sido rico e ostentar vários bens, a época ser funcionário público era
compatível com exercer a profissão privadamente, coisa que só mudou após a constitução de 88. Ou seja, ele assinou inúmeros projetos Brasil afora. Assim, era meio notório que não havia desvio algum, era só pra encher o saco e o regime poder dizer que Niemeyer era suspeito de desvio. Durante o julgamento, quando inquirido como ele havia comprado uma casa no campo a época, diz meu pai que ele chocou todo mundo ao levantar indignado perante aquela palhaçada toda e responder, esbravejando com a mão pra cima: "Dando o cu! Eu comprei essa casa dando o cu, meus senhores!". Foi o escândalo. Como meu pai repetia os mesmos casos e piadas para mim, que eu sempre ouvi pelo prazer de vê-lo contar, fato é que cresci ouvindo essa história e vendo meu pai dando risada
cada vez que contava da coragem dele e da cara dos militares. Pra mim, ficou mais um exemplo que coleciono aqui comigo de como é necessário não calar perante as arbitrariedades (coisa que todos falam e poucos fazem), e que o humor pode sempre ser acompanhado da coragem. Valeu pelo exemplo de vida ;)</div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Depoimento de <a href="https://www.facebook.com/ingridbpp">Ingrid B. Pavezi</a>, no Facebook. </div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-48395279266968352262012-11-30T11:32:00.000-02:002012-11-30T12:00:44.011-02:00Lady Godiva e o ativismo virtual<blockquote class="tr_bq">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9ZAAyWJVKWLAc6XbOFb50wy1j1wmdKNc17JIFvwLIMgbetL6OhF7KBZuA2rjwBzu77Am51CY5SNhqXgBXDcY1Ug_UZuNqvLdZzaPW4q6tWjEVIbFDRs9MX-p6FU6AsgUJd9VryuxX/s1600/lady-godiva.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9ZAAyWJVKWLAc6XbOFb50wy1j1wmdKNc17JIFvwLIMgbetL6OhF7KBZuA2rjwBzu77Am51CY5SNhqXgBXDcY1Ug_UZuNqvLdZzaPW4q6tWjEVIbFDRs9MX-p6FU6AsgUJd9VryuxX/s320/lady-godiva.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><i>Lady Godiva</i>, John Collier, 1897</span></div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Diz a lenda que a bela Lady Godiva ficou penalizada com a situação do
povo de Coventry, que sofria com os altos impostos estabelecidos por seu
marido. Lady Godiva apelou a ele tanto que ele concedeu com uma
condição: que ela cavalgasse nua pelas ruas de Coventry. Ela aceitou a
proposta e mandou todos os moradores se fecharem em suas casas até que
ela passasse. Diz a lenda que somente uma pessoa (<i>Peeping Tom</i>)
ousou olhá-la, e ficou cego por consequência. Ao final da história,
Leofric retira os impostos mais altos assim mantendo sua palavra.</div>
</blockquote>
<div style="text-align: right;">
Fonte: <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Lady_Godiva">Wikipedia</a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Eu ouvi falar de Lady Godiva quando era criança, como um símbolo de fé na bondade das pessoas. Uma nobre que se propõe a ficar nua por seu povo, e um povo que resiste à tentação de vê-la para se mostrar digno dessa confiança. A história exemplifica também duas formas de ação: a de se lançar e a abstenção. Foi no que o povo não fez que constituiu o seu mérito. Costumamos considerar apenas a primeira importante e esquecemos que não condenar, não prejudicar, não ajudar a manter também é uma forma de ajudar. Esse esquecimento ou, talvez, a desvalorização da abstenção como ativismo tem nos levado a alguns erros.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Vivemos tempos de ativismo virtual, de pessoas compartilhando links, publicando hastags e colocando em pauta coisas que as indigna. Para muitos é discutível o quanto esse "ativismo de sofá" é válido; válido ou não, ele consegue fazer um certo barulho e dar atenção a assuntos que de outra forma talvez fossem ignorados. Só que a capacidade desse ativismo em dar visibilidade também é prejudicial. O caso mais recente é o da menor de idade que teve as suas fotos íntimas publicadas por um ex-namorado. O perfil com as fotos foi um sucesso, elas foram vistas e comentadas por milhares de pessoas, o nome e o local onde moça vive foram divulgados. Mesmo aqueles que discutiam o quanto a atitude do rapaz foi reprovável não se cansavam de repetir o nome completo da menina, que foi parar no <i>trending topics</i> do twitter; pessoas que queriam se manter atualizadas pediam para ver os links e assim o assunto se tornava cada vez maior. Lembro também o caso da loja virtual que xingou uma cliente e acabou dobrando suas vendas. Chamar a atenção, mesmo que pelos piores motivos, acaba sendo lucrativo para alguns. Então proliferam piadas de mau gosto, declarações machistas, grosserias de todo tipo. Porque quando as pessoas tentam se defender elas repassam e repetem, o que apenas estende o ciclo.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Se Lady Godiva passasse nua hoje, todo mundo colocaria a cabeça na janela para twittar sobre o assunto e manter os outros atualizados.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-25295275104473384602012-11-27T09:02:00.001-02:002012-11-27T09:02:48.972-02:00Walt Disney & Salvador Dali - Destino<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/K6XCN6gNJFw?fs=1" width="480"></iframe><br />
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<div style="text-align: justify;">
Escondido nos Arquivos dos Estúdios Disney, estava um projeto de um curta com a arte de Waltey Elias Disney com Salvador Dalì. Em meados dos anos 40, Disney esquematizou com Dalì para promoverem um curta baseado em suas artes surrealistas. Porém Disney não tinha dinheiro o suficiente para continuar, então só foram produzidos 17 segundos do curta original.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Agora, seu sobrinho, Roy Edward Disney, encontrou esse
projeto esquecido e o finalizou com a equipe de animação dos Estúdios Disney.</div>
<br />
<span style="font-size: x-small;">(Obrigada, <a href="http://www.vuduloja.com/">Vudu Loja</a>)</span>Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-85843786020425695922012-11-20T13:47:00.000-02:002012-11-20T13:47:36.497-02:00Eu não consigo emagrecer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPDLP0v_902dcDGUxXTpnVCxK34Qy4HPWL9bzbhdayYT-yxVBx9fK_dbJZPG8RofBqD_oq3nMtVIe8Jmho4_uNb2okiM9cdyeX1mDjEbtY7144kcJ_rxqxeUm2sOC4KgL4q8Uc5eJr/s1600/dukan.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPDLP0v_902dcDGUxXTpnVCxK34Qy4HPWL9bzbhdayYT-yxVBx9fK_dbJZPG8RofBqD_oq3nMtVIe8Jmho4_uNb2okiM9cdyeX1mDjEbtY7144kcJ_rxqxeUm2sOC4KgL4q8Uc5eJr/s320/dukan.jpg" width="207" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O título do livro do Dr. Dukan, inventor de uma dieta com o mesmo nome, é bastante atraente para a pessoa que já tentou de tudo e jamais emagrece. Ao mesmo tempo, colocar esse livro como um simples livro de dieta não deixa de ser uma redução. Esse livro é um daqueles que dá vontade de sair presenteando aos amigos, até para os que não precisam emagrecer. Sobre a dieta em si, o que posso dizer é que tenho amigas que fizeram, emagreceram e continuam magras. O que me atraiu no livro a ponto de vir aqui escrever - e não deixá-lo apenas para minha consulta pessoal - é a maneira como o Dr. Dukan entende o problema da obesidade de maneira muito pragmática e se dispõe a lutar contra a epidemia de obesidade do mundo.</div>
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<div style="text-align: justify;">
A primeira coisa que me chamou atenção foi Dr. Dukan reconhecer que comer é bom. Nosso organismo vê em qualquer excesso a possibilidade de estocar comida para tempos difíceis, ele não está programado para nossa superabundância calórica. Nós vemos em qualquer embalagem de chocolate o desejo de comer todos os quadradinhos, porque aquilo é gostoso e nos tranquiliza. Não é possível, simplesmente, dizer que as pessoas devem abrir mão dessas calorias. Comida não é apenas caloria, comida é um monte de coisa: é fonte de prazer, sociabilidade, amor, recompensa, compensação, etc. De acordo com o Dr. Dukan os primeiros estudos de nutrologia surgiram depois da grande guerra e comparavam o corpo a uma máquina: se o corpo gasta menos calorias do que entra, ele engorda. Embora pareça bastante lógico, esse tipo de pensamento não levava em conta a natureza digestiva de cada tipo de alimento e, principalmente, a relação das pessoas com a comida. Por ter bases tão dissociadas da realidade, esse raciocínio tem se mostrado totalmente ineficaz diante da epidemia de obesidade de vivemos hoje. É preciso, então, partir de outros pressupostos.</div>
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<div style="text-align: justify;">
Dr. Dukan demonstra conhecer bem o seu público alvo. Ele fala do impulso inicial e desesperado de se começar uma dieta, quando a pessoa se sente apta a abrir mão de tudo, até de comer o que gosta. Mas essa fase não dura muito; o entusiasmo vai baixando e a pessoa gradualmente abandona as diretrizes. E mesmo quando o objetivo da dieta é alcançado, a tendência a recuperar o peso é muito grande porque o sujeito relaxa. A maioria das dietas ensina a perder peso, mas depois do objetivo alcançado apenas exorta as pessoas à moderação: "Pode comer, mas coma menos e evite a sobremesa". Dr. Dukan diz: não adianta dizer para comer menos, se a pessoa engordou tanto é porque ela gosta de comer. É difícil convidar à moderação quando temos tantas ofertas de comida; ninguém abre mão pra sempre só porque não faz bem ou vai engordar. O seu método leva em conta essa psicologia e tenta se ajustar a ela: no início, maior restrição e maior emagrecimento, para aproveitar a euforia e a vontade de mudar. Depois, um período de emagrecimento com um pouco mais de concessões. Com o peso já estabelecido, mais concessões ainda. E, ao longo da vida, o compromisso de um dia de limpeza durante a semana.</div>
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<div style="text-align: justify;">
Chega a ser comovente a preocupação que o Dr. Dukan demonstra, ao longo do livro, com o problema da obesidade, e seu desejo sincero de ajudar. Ele explica a base científica de seu método, o porquê da escolha de cada alimento, oferece cardápios, insiste na prática da caminhada, e outras coisas que se espera de um livro de dietas. Mas ele também fala do papel que a comida cumpre num mundo tão infeliz, da dificuldade dos obesos, do distanciamento das pessoas de seus corpos, da busca pelo prazer. Com seu livro e o seu site (<a href="https://www.dietadukan.com.br/">https://www.dietadukan.com.br/</a>), Dr. Dukan procura ser um agente de mudança para que todos tenham direito à saúde e à beleza. Espero que consiga.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-31597192128175444792012-11-09T10:45:00.000-02:002012-11-09T10:45:09.654-02:00Eu era assim...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik2elSBCZzR3OHmavY5LBxIqf5QyWIGKur7PZ1E0EoPO6xuHmYwCZZMRj7EZUWKwS3TMFo0WjYA8fI1FZQz9GJAmM-n4HZI_ww2Umps3SCrTwtfPSzX_Cs5XaEtM7toEbCOJ-qe8v9/s1600/beleza.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik2elSBCZzR3OHmavY5LBxIqf5QyWIGKur7PZ1E0EoPO6xuHmYwCZZMRj7EZUWKwS3TMFo0WjYA8fI1FZQz9GJAmM-n4HZI_ww2Umps3SCrTwtfPSzX_Cs5XaEtM7toEbCOJ-qe8v9/s1600/beleza.jpg" /></a></div>
<br />Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-11395124197218454772012-11-01T15:03:00.000-02:002012-11-01T15:03:41.514-02:00A velhice e o nada<div style="text-align: justify;">
Insistir em deixar de lado a busca irracional pela juventude e beleza cai no vazio, porque o oposto de juventude e beleza acaba sendo feiúra e velhice. São poucos aqueles a quem damos o privilégio de serem considerados desejáveis mesmo depois dos cinquenta. Geralmente são intelectuais ou artistas; quero ver uma pessoa comum ser considerada linda com todos os atributos da velhice: cabelos ralos e brancos, rugas, pele flácida, excesso de peso. Ao contrário, elogiamos constantemente os que conseguem envelhecer sem parecer que envelheceram, o que nada mais é do que um desejo constante de juventude. Para Elias, no <a href="http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/461841/a-solidao-dos-moribundos"><i>A solidão dos moribundos</i></a>, nosso horror à velhice estaria intimamente ligado ao horror à morte. Os velhos, na sua decadência física, nos lembrariam da nossa própria decadência. Afastá-los do olhar seria afastar também essa lembrança desagradável. Não vemos mais ganhos e não nos preparamos mais à idéia de morrer; é como se a morte tivesse se tornado um acidente. Cito Hebe Camargo, que mesmo aos 83 anos e lutando contra o câncer, parece ter surpreendido as pessoas ao morrer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Penso em outra questão, que nada tem a ver com angústias existenciais e é muito característica da nossa época, fruto do que <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/2011/08/entrevista-com-bauman.html">Bauman</a> chama de <i>liquidez</i>. As rápidas mudanças do capitalismo e a nossa sociedade de consumo levaram a uma cultura do descartável, que vai muito além dos objetos. Descartamos amores, amizades, projetos, tristezas. Se não pela certeza de que encontraremos outros muito facilmente, às vezes apenas com um clique, o fazemos pela exigência do mercado. Se não estivermos felizes e produtivos na segunda-feira seguinte, possivelmente alguém capaz disso tomará o nosso lugar em pouco tempo. Se não somos capazes de nos apresentar assim apenas pela força da nossa personalidade, <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/2012/07/um-insight-literario-sobre.html">apelamos para os remédios</a>. A lentidão natural dos mais velhos - tanto fruto da diminuição de energia quanto pela dificuldade de absorver as mudanças tecnológicas - é o que há de pior para esse estilo de vida. Não vemos mais porquê apelar para os mais velhos e achamos que eles nem entendem do que estamos falando. O respeito aos mais velhos se tornou uma exigência educada, não mais reflexo de uma admiração. A força e a autoridade da velhice estavam ligadas a valores que hoje estão completamente esvaziados: vasta experiência de vida, conhecimento das tradições, capacidade de raciocinar friamente, decisões ponderadas, resistência ao novo, o olhar além das aparências, etc.</div>
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<br /></div>
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Ao mesmo tempo, enquanto ficar velho de corpo é inevitável, para ficar velho de espírito é preciso preparação. A sabedoria não chega de maneira automática com a velhice. Quem não conhece velhos apenas de corpo - ridículos na sua tentativa de lutar contra o tempo, vazios de quaisquer valores, apenas um arremedo feio do que foram na juventude. Como na questão do ovo e da galinha, nosso apego à juventude gera velhos que não sabem envelhecer e a velhice vazia de alguns nos faz pensar que não há nada de desejável na passagem dos anos.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-13911743368491585632012-10-30T11:13:00.003-02:002012-10-30T11:13:34.935-02:00Três comentários sobre homens e mulheres<div style="text-align: justify;">
Hoje a <a href="http://www.sul21.com.br/blogs/sapatinhosvermelhos/">Nikelen</a> postou esta notícia no FB: <a href="http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI322529-17770,00-EM+NOME+DA+LIBERDADE+HOMENS+SAO+PROIBIDOS+EM+VILAREJO+DO+QUENIA.html"><i>Em nome da liberdade, homens são proibidos em vilarejo do Quênia</i></a>. Em resumo, a notícia fala de mulheres que se cansaram do direito que os homens da região - sejam eles maridos ou soldados estrangeiros - de disporem de seus corpos como quiserem, seja estuprando ou espancando. Na foto vemos mulheres em trajes tradicionais e aquele vilarejo parece ser um lugar pouco contaminado por outras culturas - mas contaminado o suficiente para que suas mulheres não aceitem mais esse tipo de opressão. A idéia de pureza cultural é uma bobagem; o interessante é notar justamente o que o sujeito escolhe das outras culturas, o que isso reflete de anseios que ele já tinha. Para todo período histórico e lugar que se olhe, a opressão feminina parece ser uma regra. De maneira semelhante, assim que alguma possibilidade é oferecida, essas mulheres se rebelam. As exigências mudam, nem sempre elas pedem o tanto quanto achamos que merecem. Só que o desejo de autonomia nunca morre. Em outros termos, podemos pensar que o ser humano jamais se acostuma com a opressão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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*** </div>
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Estou lendo, a passos de tartaruga, <a href="http://pt.scribd.com/doc/4894640/O-Livreiro-de-Cabul-Asne-Seierstad"><i>O livreiro de Cabul</i></a>. É um livro delicioso, o livro mais gostoso que já li sobre a cultura daquela região. Dá vontade de copiar o livro inteiro para comentar. Uma das histórias (Tentações) fala sobre Mansur, o filho do livreiro. Ele tem dezessete anos e, embora seja homem e primogênito, sofre com a posição que ocupa - precisa obedecer ao seu pai em tudo e é solteiro. Vemos sua tentativa (que ao leitor ocidental parece patética) de paquerar as moças de burca, cuja beleza é adivinhada pelo tamanho da burca, pela maneira de andar, pelo porte, pelas mãos, pelo pouco que é possível ver dos olhos por detrás das rendas. Seu amigo <span class="a" style="left: 626px; top: 2199px; word-spacing: -1px;">Rahimullah é muito menos inocente do que ele e se aproveita de viúvas para obter favores sexuais. Num certo momento, </span><span class="a" style="left: 626px; top: 2199px; word-spacing: -1px;">Rahimullah lamenta que as mulheres afegãs sejam "tão chatas" - elas ficam tensas e estiradas durante o sexo, muito diferente do que ele vê nos filmes pornôs. Por mais que ele tente dizer o que elas devem fazer, elas não conseguem. Se de um lado a cultura os mantém tão seguros sobre o que suas mulheres escondem, por outro não lhes permite tanto prazer quanto gostariam. Só a liberdade em níveis mais amplos permite mulheres como aquelas dos filmes.</span></div>
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<span class="a" style="left: 626px; top: 2199px; word-spacing: -1px;">*** </span></div>
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<span class="a" style="left: 626px; top: 2199px; word-spacing: -1px;"> Uma vez vi uma entrevista de um cineasta muçulmano, e num certo momento a entrevistadora (acho que era a Fernanda Torres) lhe pergunta sobre as burcas e a opressão feminina. Ele lhe diz que se por um lado as mulheres orientais se cobrem, por outro as ocidentais são obrigadas a se mostrar sempre e com a mesma aparência que teriam se estivessem na adolescência. </span><span class="a" style="left: 626px; top: 2199px; word-spacing: -1px;">Claro
que uma coisa não justifica a outra - nem essa era a intenção dele - mas acho importante pensar no
sofrimento que a tal "luta pela beleza" tem causado às mulheres. </span><span class="a" style="left: 626px; top: 2199px; word-spacing: -1px;">As mulheres ocidentais são proibidas de engordar, de enrugar, de deixar seus cabelos brancos, enfim, de simplesmente envelhecer. Não existe mais tregua, não existe mais um período que a mulher possa dizer - "eu já cheguei a tal idade" ou "eu já sou bem casada" ou "eu já criei meus filhos". Assim como ficar bela e fazer sexo é um direito, deveria haver também o direito de deixar para lá. É uma utopia de juventude eterna. Testemunho mulheres sofrendo com cada quilo, com cara ruga e lamento que isso não seja apenas normal, o resultado inevitável da passagem dos anos e da alteração do metabolismo. </span></div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-89637027363312680292012-10-26T20:02:00.001-02:002012-10-27T10:08:28.479-02:00Meu melhor livro - Orlando<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqT9BxklRsXBTjFy4NmNH7tcbJWaKRoGv3RJEdofbr4oM8d9cU-QhqAzh9qhkcL6ULVeLYkSgPMZcFvNEzKa6alresySt30j5J3vY1yocClWXom03uFdrFmlwwZoSU88i-tI3wCf1W/s1600/ORLANDO.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqT9BxklRsXBTjFy4NmNH7tcbJWaKRoGv3RJEdofbr4oM8d9cU-QhqAzh9qhkcL6ULVeLYkSgPMZcFvNEzKa6alresySt30j5J3vY1yocClWXom03uFdrFmlwwZoSU88i-tI3wCf1W/s320/ORLANDO.jpg" width="215" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu acho a leitura comparável ao vício. Existem aqueles que possuem uma blindagem natural, que podem entrar em contato com a droga mais sedutora sem se viciar. Eles entram e saem quando querem, jamais deixam que aquilo tome conta de suas vidas. Outros são frágeis, influenciáveis, e logo adquirem o status de <i>heavy-users</i>. Só que quando falamos de drogas no sentido mais comum do termo, existe um caminho natural e um fim. Reza o senso comum que todos começam com drogas leves, talvez até legalizadas - cigarro, álcool, cogumelos, maconha - que acostumam o organismo e são porta de entrada para coisas realmente fortes - heroína, cocaína, crack. Só que com livros - ufa, finalmente consegui chegar lá! - não existe esse caminho previsível. A cada leitura surge o problema do que ler em seguida. O leitor precisa de algo novo, algo melhor, algo diferente. Essa é a grande dificuldade de ser um <i>heavy user</i>. Poucos livros - apenas o inesquecíveis- ficam melhores com o tempo, poucos merecem uma releitura.</div>
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Quando entrei em contato com <i><a href="http://www.skoob.com.br/livro/5931-orlando">Orlando</a> </i>pela primeira vez, eu já era uma leitora rodada. Eu já havia abandonado os livros com figuras, até as pequenas. Chorar ou rir sozinha já fazia parte da minha rotina, assim como me apaixonar por pessoas que nunca existiram e achar que conheço lugares que nunca visitei. Já havia passado pelos mistérios de Agatha Christie e as cenas picantes dos Sidney Sheldon, tinha perdido a minha inocência. Enfim, já não era mais uma leitora que pergunta, antes de ler, quantas páginas o livro tem. O que viesse eu encarava, desde que fosse de qualidade, desde que desse barato.</div>
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<div style="text-align: justify;">
<i>Orlando </i>me deu barato desde as primeiras linhas, quando ele começa o livro olhando pela janela e perde subitamente a inspiração. Logo nas primeiras linhas, num parágrafo que não acaba mais, Virginia Woolf nos apresenta toda linhagem de <i>Orlando</i>, seu aspecto físico, nos faz adivinhar onde vive e nos identifica com o seu caráter. Tudo é descrito de uma maneira tão leve que parece que estamos ao lado de alguém que nos sussurra ao ouvido, ou um contador de histórias, ou uma mesa farta, ou qualquer tipo de metáfora que indique algo feito com muita facilidade e prazer. </div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Meu amor por esse livro é tão grande que durante anos fui incapaz de ler qualquer outra coisa de Virginia Woolf, porque duvidava que ela tivesse sido capaz de repetir o feito de <i>Orlando</i>, que algum outro livro pudesse ser tão prazeroso de ler quanto esse, mesmo feito das mesmas mãos. Como é possível criar um lindo, nobre, vivendo séculos e passando por mais coisas do que qualquer mortal é capaz de passar, e sem com isso fazer com que o leitor o odeie pela sua extrema boa sorte? Eu já li <i>Orlando </i>várias vezes e em nenhuma senti que realmente conhecesse o personagem, mesmo quando ele sofre por amor, mesmo quando seus pensamentos são comparados a pratos nas mãos de um copeiro, mesmo quando foge, quando volta e finalmente...</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
É possível amar <i>Orlando </i>pela mão segura que o escreveu, que consegue traçar perfis precisos destacando as mais variadas características, que repete palavras (como na parte que fala da mão da rainha quando apresentada a <i>Orlando</i>) para criar um ritmo interessante na leitura, que congela e acelera o tempo, conta fatos e impressões, mistura observações deliciosas e prosaicas com coisas que calam fundo na alma do leitor. Mas é possível também amar <i>Orlando </i>pela história sempre inesperada, pela ingenuidade e romantismo do jovem <i>Orlando</i>, pelo seu contato com rainhas, com russos, com ciganos, com o outro lado do gênero, com admiradores, com puxa-sacos. São também personagens de <i>Orlando </i>sua linhagem, sua casa, a passagem dos anos, a Inglaterra. </div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Eu sou de ler muito e reler pouco, e esse é um livro que me consegue capturar sempre. Começo a ler umas linhas e quando vejo estou na página cento e alguma coisa. Saber o que vai acontecer, ao invés de tirar o meu interesse, antecipa o meu prazer e quando vejo o livro já terminou. Por falar nisso, o amor à sinceridade me faz revelar: a única escorregada nesse livro tão maravilhoso são justamente as últimas páginas, que abusam de um certo experimentalismo, digamos assim. Nunca deixo de ler, mas elas não fazem jus ao resto da obra. </div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-40650222345783447102012-10-26T13:39:00.001-02:002012-10-26T13:40:04.005-02:00Pálido Ponto Azul<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/tRjVDOgGJ8Y?fs=1" width="459"></iframe>Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-1436559431471982632012-10-17T22:10:00.001-03:002012-10-17T22:10:41.148-03:00Leitor de mentes revela seu segredo<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/HuJJFKmRYS0?fs=1" width="480"></iframe>Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-69050528324756081272012-10-13T15:19:00.000-03:002012-10-13T15:22:44.226-03:00Amigos, amantes e chocolate<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbJh1z8Rp7XB4r88QJgbSdSCH929KCq_hWmfAyYKVZ3TFnayhyphenhyphen-aU2YU1X32IYA7zCTQT2F1HlPWbMQrKI2jAR9PObqS-XcC5po91Fth1Z7Wp0C8_wC3TQiwU-ezOF_nnqbvQ13wyh/s1600/amigos_amantes_300_div.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbJh1z8Rp7XB4r88QJgbSdSCH929KCq_hWmfAyYKVZ3TFnayhyphenhyphen-aU2YU1X32IYA7zCTQT2F1HlPWbMQrKI2jAR9PObqS-XcC5po91Fth1Z7Wp0C8_wC3TQiwU-ezOF_nnqbvQ13wyh/s320/amigos_amantes_300_div.jpg" width="192" /></a></div>
Movida pelo entusiasmo de <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/2012/10/agencia-n1-de-mulheres-detetives.html"><i>Agência nº1 de mulheres detetives</i></a>, comecei a leitura de <a href="http://compare.buscape.com.br/amigos-amantes-chocolate-alexander-mccall-smith-8535913718.html"><i>Amigos, amantes e chocolate</i></a> logo depois, por se tratar de um livro do mesmo autor. Foi a maior besteira que eu fiz. O primeiro livro é muito superior ao segundo, então a leitura fica contaminada por essa comparação: ao invés de uma terra exótica como Botswana, que serve de pretexto para descobrir tantos costumes e cenários diferentes, o livro se passa na muito mais familiar Escócia, em meio a uma cidade e suas streets, ou seja, nada que chame atenção. Enquanto Mme Ramotswe é uma mulher inovadora e colorida, conquistadora e que sempre alcança o que deseja, Isabel Dalhousie é uma solteirona abastada, tagarela e insegura, que não parece despertar nenhum desejo nos homens. Até no ritmo da história <i>Agência nº1</i> ganha - o mistério central de <i>Amigos, amantes e chocolate</i> leva quase cem páginas para aparecer. </div>
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<blockquote class="tr_bq">
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Durante um momento o silêncio reinou. Isabel tomou um gole de vinho. Quis perguntar a Louise: "E o que faz seu marido?". Um pensamento delicioso, por ser uma pergunta tão subversiva e rude nessas circunstâncias: evocar o marido, o fantasma daquele banquete. Poderia fazer a pergunta com ar inocente, como se não tivesse a menor idéia da natureza da relação entre Jamie e ela, mas claro que Jamie saberia que tinha sido uma pergunta maldosa e ficaria mortificado. Mas ele não podia reclamar, já que a levara lá, para exibí-la. Será que ele não conseguia entender que esse encontro seria doloroso para Isabel? Seria demais esperar que ele percebesse a insatisfação dela com tudo aquilo?</div>
<div style="text-align: justify;">
Isabel ergueu a taça de vinho e bebeu outro gole. Na sua frente, Louise começava a mexer num botão da jaqueta. Ela não está se sentindo à vontade, pensou Isabel. Não quer estar aqui. Aos seus olhos, ela é a aventureira, a ardente, a mulher na moda, capaz de conquistar facilmente um jovem, enquanto esta outra mulher, esta filósofa, não é nada. Observou-a e viu os olhos dela percorrerem a lareira e os quadros, olhar de completo desdém no rosto, embora não tivesse a menor idéia de que Isabel perceberia. Não sou nada para ela, Isabel disse para si mesma. Ela nem me nota. Bem, nesse caso...</div>
<div style="text-align: justify;">
"E o que faz seu marido?" perguntou Isabel.</div>
<div style="text-align: right;">
p.57-58 </div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Isabel Dalhousie é uma filósofa que trabalha apenas meio período para uma revista. Fazem parte do seu mundo a sua sobrinha Cat, dona de uma delicatessen; os encontros com ex-namorado de Cat, o fagotista Jamie, por quem Isabel nutre uma paixão platônica; as conversas com empregada Grace. Na delicatessen, enquanto sua sobrinha está viajando, ela conhece Ian, e dele surge o mistério que será investigado no livro. Esse mistério tem um viés espírita, mas à maneira escocesa - nunca é demais lembrar que <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/2011/02/reencarnacao.html">o Brasil é o único país com uma religião espírita</a>. Embora coerente, acredito que o fim do livro será decepcionante para a maioria dos leitores. Mais do que com a história, o autor espera que o leitor se identifique como mundo interior de Isabel, que se interessa por música clássica, psicologia, filosofia, arte, dilemas morais e por quase tudo à sua volta. A única diferença cultural especialmente marcante é a maneira como os italianos são vistos: pessoas elegantes e bonitas, clima maravilhoso, arte e romantismo, o lugar onde qualquer um nasceria se pudesse escolher. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apenas depois de terminado o livro, descobri que <i>O Clube Filosófico Matinal</i> é o primeiro com ela. Estavam os dois lado a lado na estante e ia buscá-lo semana que vem. Agora já está fora da minha lista. <i>Amigos, amantes e chocolate</i> é um livro interessante e bem escrito, mas Isabel não me conquistou.</div>
<br />Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-39456679469267114962012-10-06T20:36:00.000-03:002012-10-06T20:43:38.473-03:00Agência nº1 de mulheres detetives<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoOCGFbN6EYXRD6zTNj4ayMnBKwf2b6oCeDrDHYIouq4AOL8LHqc0QGurB3qadMVA93k6EMosySZsiTwcOqRSGB7ry48DmftLI70vAOsa2BaS8Ban2PHJGQ7UYFW0iMZ49KigknU74/s1600/agencia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoOCGFbN6EYXRD6zTNj4ayMnBKwf2b6oCeDrDHYIouq4AOL8LHqc0QGurB3qadMVA93k6EMosySZsiTwcOqRSGB7ry48DmftLI70vAOsa2BaS8Ban2PHJGQ7UYFW0iMZ49KigknU74/s1600/agencia.jpg" /></a></div>
Você não poderá sair por aí e dizer que leu <a href="http://compare.buscape.com.br/agencia-n-1-de-mulheres-detetives-smith-alexander-mccall-8535903194.html"><i>Agência nº1 de mulheres detetives</i></a> para parecer inteligente. Nem ao menos conseguirá esse efeito quando contar a história e o número pequeno (pouco mais de duzentas) páginas. O autor - Alexander McCall Smith - é desconhecido. Para piorar tudo, é a história de uma mulher africana, uma mulher comum que tem uma van branca. A história é simples, sem arroubos de linguagem, de parágrafos curtos. </div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
"Por que não?" disse Mme Ramostwe. Ela ouvira dizer que as pessoas não gostavam de advogados, e agora achava que entendia por quê. Esse homem era tão cheio de certezas, tão seguro de si mesmo, tão completamente convencido. Que tinha ele a ver com o que ela fizesse? Era o seu dinheiro, era o seu futuro. E como se atrevia a dizer aquilo sobre as mulheres, ele que nem sequer se dava conta de que o zíper da sua braguilha estava mal fechado! Seria o caso de avisá-lo?</div>
p.65 </blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
Quando penso em descrever esse livro, o que me vêm é um chavão - é um livro que aquece o peito. Ele me parou em mãos num momento difícil, e ao contrário da acusação de que os leitores geralmente são vítimas, não consigo ler para fugir dos meus problemas. Para me prender num momento de pouca concentração e tristeza, somente algo muito gostoso e positivo. Uma história que me prenda quando outras inquietações me invadem. Melhor ainda, se de forma indireta ela me consolar. Encontrei tudo e mais um pouco neste livro. Para os que lêem os livros mais complexos, ele será um refresco, algo de uma simplicidade apenas aparente e uma prosa deliciosa. Para os que não lêem, é finalmente um livro interessante, fácil e interessante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Ela interrompeu seus pensamentos. Estava na hora de tirar a abóbora da panela e comê-la. Em última análise, esta era a solução para todos os grandes problemas da vida. A pessoa podia pensar e pensar e não chegar a parte alguma, mas, fosse como fosse, tinha que comer a sua abóbora. Era isso o que se chamava voltar à realidade. Dar à pessoa uma razão para seguir em frente. A abóbora.</div>
<div style="text-align: justify;">
p. 89</div>
</blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
A protagonista, Mme Ramotswe, é uma mulher grande, colorida, que abre uma agência de detetives sem saber se vai dar certo. O livro fala de seus casos, e da maneira inteligente e original que Mme Ramotwe os resolve. É um universo pequeno, ordenado, e a o bom senso de Mme Ramotswe torna tudo muito familiar, como se nossa tia ou uma vizinha pudessem ser detetives. Ao mesmo tempo em que resolve problemas, conhecemos seus hábitos tranquilos, as conversas com os amigos, os momentos preguiçosos no jardim. No meio da história descobrimos o seu passado e o de outras pessoas que estão à sua volta. É incrível pensar que um livro tão feminino tenha sido escrito por um homem. Na pequena grande mulher que é Mme Ramotswe, também descobrimos a África, lugar que ela tanto ama: suas paisagens áridas, suas lutas, seus diferentes povos e dialetos, seus costumes e resistências. O livro tem senso de humor, mas também mostra um pouco a tragédia cotidiana de homens e mulheres, o domínio estrangeiro e a necessidade de sobreviver, as escolhas e dificuldades que os costumes lhes impõem. O autor não pretende levantar qualquer bandeira; tudo nos é apresentado com a doçura de quem ama e vê o sofrimento de longe, da perspectiva de quem aceita o que viveu. Não há maneira melhor de dizer: é um livro de aquecer o peito. Leiam e apaixonem-se por ele.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Busquei esse livro unicamente pela recomendação da <a href="http://dropsdafal.blogbrasil.com/">Fal</a>, que descobriu inclusive que foi feita (e interrompida) <a href="http://www.youtube.com/watch?v=zGoDTlCwrgc&feature=related">uma série</a> sobre ele.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-1930452991335664482012-10-05T23:28:00.001-03:002012-10-05T23:28:32.748-03:00Como montar uma campanha eleitoral<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/PfO3tAtHYsA?fs=1" width="480"></iframe>
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Vou dizer que roubei da <a href="http://dropsdafal.blogbrasil.com/">Fal</a>, mas também vi compartilhado várias vezes no facebook.Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-38987291496127711112012-09-26T16:13:00.000-03:002012-09-26T16:13:07.241-03:00Razões<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgw-ARXZcZO9UAY0FGskbzDXeJ-4ZtQN_VFEs_Qd33RfrG7B8B_B691lsaNPchdiPBnsf7_y5pts0YOEzwiMMGdGuyp9_oqGpQ1p-T5TM0KHKv1udrGg9cG6A6ZDFDkyOMFOFYrKVV6/s1600/raz%C3%B5es.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="129" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgw-ARXZcZO9UAY0FGskbzDXeJ-4ZtQN_VFEs_Qd33RfrG7B8B_B691lsaNPchdiPBnsf7_y5pts0YOEzwiMMGdGuyp9_oqGpQ1p-T5TM0KHKv1udrGg9cG6A6ZDFDkyOMFOFYrKVV6/s320/raz%C3%B5es.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
Peguei da <a href="http://pergunteaopixel.blogspot.com.br/">Tina</a>, que pegou <a href="https://www.facebook.com/Literatortura">daqui</a>.</div>
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<div style="text-align: justify;">
Esse post vagabundo (mas a tirinha é ótima, vai!) é só pra dizer que o blog está entregue às baratas mas eu volto. Estive ocupada com coisas ruins e boas na última semana, e ambas me tiraram a tranquilidade para ler. De lá pra cá só terminei o <a href="http://www.4shared.com/office/L3pkKVS1/Isaac_Asimov_-_Caa_aos_robs.html"><i>Caça aos robôs</i></a>, do Asimov. Já escrevi <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/#uds-search-results">tanto sobre o Asimov aqui</a> que tenho até vergonha de fazer outra resenha. É um Asimov, poxa, os livros se parecem. Só pra não deixar passar em branco: é um livro policial e funciona.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-523953363009071632012-09-19T22:12:00.001-03:002012-09-19T22:12:47.635-03:00Tão marcante que dói<div style="text-align: justify;">
Comecei a ler <a href="http://www.wook.pt/ficha/homem-invisivel/a/id/176394"><i>Homem Invisível</i></a>, de Ralph Ellison, um verdadeiro clássico sobre o preconceito racial. Logo no primeiro parágrafo do Prólogo, lamentei muito que ninguém que eu conhecesse na época do meu mestrado tivesse me recomendado o livro. Porque a definição que ele faz da sua invisibilidade <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/2012/05/sobre-cegueira.html">cai perfeitamente com o conceito de estigma</a>. Se não pudesse usar o livro todo, pelo menos usaria esse começo, nem que fosse apenas como uma Epígrafe.</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Sou um homem invisível. Não, não sou um fantasma como os que assombravam Edgar Allan Poe; nem um desses ectoplasmas de filme de Hollywood. Sou um homem de substância, de carne e osso, fibra e líquidos - talvez se possa até dizer que possuo uma mente. Sou invisível, compreendam, simplesmente porque as pessoas se recusam a me ver. Tal como essas cabeças sem um corpo que às vezes são exibidas nos mafuás de circo, estou, por assim dizer, cercado de espelhos de vidro duro e deformante. Quem se aproxima de mim vê apenas o que me cerca, a si mesmo, ou os inventos de sua própria imaginação - na verdade, tudo e qualquer coisa, menos eu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Minha invisibilidade também não é, digamos, o resultado de algum acidente bioquímico da minha epiderme. A invisibilidade à qual me refiro ocorre em função da disposição peculiar dos olhos das pessoas com quem entro em contato. Tem a ver com a disposição de seus olhos internos, aqueles olhos com que elas enxergam a realidade através dos olhos físicos. Não estou reclamando nem protestando. Às vezes é até vantajoso não ser visto, embora quase sempre seja desgastante para o sistema nervoso.</div>
<div style="text-align: right;">
p.7</div>
</blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
Com uma leitura tão interessante, fui logo para as páginas seguintes. E o que se seguiu no primeiro capítulo foi tão forte, doloroso e exagerado, que estou na dúvida se prossigo. Um grande livro, sem dúvida. Mas é daqueles que colocam o dedo na ferida, escancaram, não poupam o leitor. Não sei se quero, não sei se consigo.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-91136645056440776982012-09-14T20:04:00.001-03:002012-09-14T20:04:43.308-03:00Uma desistência inesperada<div style="text-align: justify;">
Apesar de tudo, decidi parar de ler <a href="http://www.acasadoebook.com/2010/04/download-o-apanhador-no-campo-de.html"><i>O apanhador no campo de centeio</i></a>. A edição que eu tenho tem 180 páginas e cheguei até a 87 - ou seja, já deu para sentir bem o que me espera. O livro é muito bom: escrito em primeira pessoa, consegue revelar aos poucos as informações sobre o personagem, de maneira a nos deixar sempre curiosos sobre quem ele é e o que o motiva. O personagem principal é coerente, a narrativa é dinâmica, a história em nenhum momento diminui de ritmo. Então por que abandonarei? Porque o tom do livro me lembra o twitter. Nunca pensei que diria uma coisa dessas. A história é centrada num adolescente, e ele descreve o mundo com sarcasmo e mau humor. Adolescentes sendo sarcásticos e mal humorados sobre tudo o que acontece à sua volta é a própria essência do twitter. É como se eu parasse de ler o twitter no computador e passasse a lê-lo por escrito. Enfim, me dá cansaço.</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Eu estava cercado de imbecis. Fora de brincadeira. Na outra mesinha, bem do meu lado esquerdo, praticamente <i>em cima</i> de mim, tinha um casal com umas caras feiosas pra burro. Tinham mais ou menos a minha idade, ou um pouquinho mais. Era engraçado. A gente via logo que eles estavam tomando um cuidado tremendo para não beber a consumação mínima muito depressa. Fiquei ouvindo algum tempo a conversa deles, porque não tinha mesmo nada para fazer. Ele estava contando a ela uma droga dum jogo de futebol que ele tinha visto naquela tarde. E descreveu todas as jogadas da droga de partida, da primeira à última! - fora de brincadeira. Era o sujeito mais chato que eu encontrei em toda a minha vida. E dava pra ver que a garota dele nem estava interessada na droga do jogo, mas <i>ela </i>era ainda mais feiosa do que ele, por isso eu acho que ela tinha <i>mesmo </i>que ouvir. O negócio não é mole para as garotas feias. Às vezes elas me dão muita pena, nem gosto de olhar para elas, especialmente quando estão com um idiota que fica contando toda uma porcaria duma partida de futebol. Mas, à minha direita, a conversa estava ainda pior. Tinha um sujeito metido à besta, com um terno de flanela cinza e um desses coletes afrescalhados. Todos esses filhos da mãe das universidades se vestem igual. Meu pai quer que eu vá para uma dessas universidades metidas a bem, Yale ou talvez Princeton, mas juro que não me pegam nesses lugares cretinos nem <i>morto</i>, no duro mesmo. Seja como for, esse sujeito com pinta de aluno da Yale estava com uma garota espetacular. Puxa, ela era um estouro. Mas valia a pena ouvir a conversa dos dois. Em primeiro lugar, os dois já estavam meio altos. Ele estava passando a mão nas coxas dela, por debaixo da mesa e tudo, e ao mesmo tempo contando a história de uma colega dele que tinha engolido um vidro inteiro de aspirina e quase se suicidou. Ela ficava só dizendo para ele: "<i>Que horrível</i>... Não querido. Por favor. Não, aqui não..." Imagina só, passar a mão numa garota e ao mesmo tempo contar a ela o caso de um cara que tentou se suicidar! Era o máximo!</div>
<div style="text-align: right;">
p. 76- 77</div>
</blockquote>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-39680111759070258302012-09-06T15:49:00.002-03:002012-09-06T15:49:38.831-03:00Segredos do pedigree<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/cpakSi010n4?fs=1" width="459"></iframe>
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Depois veja os outros <a href="http://www.youtube.com/watch?v=kPEBwOPszAA&feature=relmfu">6 videos</a> da série. Peguei <a href="http://outrasverdadesinconvenientes.blogspot.com.br/2011/07/caes-de-raca-eugenia-atual.html">daqui</a>.<br />
<br />Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-50224571407756850812012-09-02T11:40:00.000-03:002012-09-02T19:31:46.904-03:00O planeta do Sr. Sammler<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4l0nuptZPRKwW4krZjgetBr-wcgjUZFyGxGlrmvCHtwKhS2ApKXcw_xfrcnNCIKIRZimVwftSED5Tm11eAWOgA9IfTHbxh6cq3QoWhjppO95XY5Xz4jj_4djVzp4FLAHxgmrIDQ1s/s1600/planetasammler.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4l0nuptZPRKwW4krZjgetBr-wcgjUZFyGxGlrmvCHtwKhS2ApKXcw_xfrcnNCIKIRZimVwftSED5Tm11eAWOgA9IfTHbxh6cq3QoWhjppO95XY5Xz4jj_4djVzp4FLAHxgmrIDQ1s/s320/planetasammler.jpeg" width="207" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma curiosidade: peguei esse livro da Biblioteca Pública, com um ex-libris que informa que ele é uma doação da Comunidade Israelita em comemoração aos 120 anos da imigração judaica no Paraná, em 2009. Quando fui ao balcão de empréstimo, a funcionária olhou para a ficha de devolução, soltou um grito e mostrou o livro para os outros, dizendo que foi a primeira vez na vida e que aquilo não se repetiria. Depois fui olhar o que havia de tão extraordinário no fim do meu livro: eu fui a primeira pessoa a emprestá-lo. Espero que isso mude e que muitos outros carimbos surjam após o 30AGO2012 que eu coloquei. </div>
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<div style="text-align: justify;">
Minha curta experiência com Saul Bellow - <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/2012/04/as-aventuras-de-augie-march.html"><i>As aventuras de Augie March</i></a> e <i>O legado de Humboldt</i> pela metade - me dizem que é aquele tipo de livro feito para se apaixonar perdidamente. Se você começa a ler e acha tudo muito confuso, que não vai para lugar nenhum e que diabos estão falando, é porque você não vai gostar. Embora não seja escrito em primeira pessoa, vemos as coisas de dentro da pele dos personagens principais de Bellow. Ou ele lhe fala de maneira muito profunda, de maneira que você se sente o personagem, ou ele não lhe fala. Não consegui sentir isso com Humdboldt e amei Augie March. O Sr. Sammler me conquistou desde o seu primeiro parágrafo:</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Logo após o alvorecer, ou pelo menos o que poderia ter sido o alvorecer num céu normal, o Sr. Artur Sammler passou uma vista de olhos nos seus livros e papéis espalhados pelo quarto que ocupava na zona oeste da cidade, com um sentimento íntimo de que eram os livros errados, os papéis errados. De certa forma, não tinha realmente muita importância para um homem de seus setenta e tantos anos, dispondo de inúmeras horas de lazer. Era preciso ser um verdadeiro maníaco para querer insistir em ter razão. Ter razão era, afinal, apenas uma mera questão de explicações. O homem intelectual tornara-se uma criatura dada a explicações. Os pais para os filhos, as esposas para os maridos, oradores para os ouvintes, peritos para leigos, colegas para colegas, médicos para pacientes, o homem para a sua própria alma, todos tinham explicações a dar. As raízes, ou as causas disso, a fonte dos acontecimentos, a história, a estrutura, as razões do porquê. Na sua maior parte, porém, penetravam por um ouvido para sair pelo outro. A alma queria mesmo o que queria: tinha o seu próprio conhecimento; sentada, infeliz, na superestrutura da sua explicação, feito um pássaro que, coitado, não sabia de que lado iria voar.</div>
<div style="text-align: right;">
p.5</div>
</blockquote>
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O livro fala de um período curto e agitado na vida do Sr. Sammler, um judeu polonês que sobreviveu ao holocausto. Embora não se apresente dessa forma e nem viva em função do passado, ele é um homem marcado. Fisicamente, pela perda de um dos olhos. Num sentido muito profundo, Sammler é um homem sem lugar, o representante de um mundo que foi destruído. Seu vocabulário, seu físico, sua maneira de se portar ("Sammler não se permitiu nenhum comentário. Afinal, seu coração não era tão difícil de ser tocado. Além disso, fora treinado na antiga polidez. Quase como, outrora, a mulher fora educada para a castidade" p. 168) refletem o Velho Mundo que existia antes da guerra. No livro que escreveria (ou escreverá) sobre H. G. Wells, há uma conexão com esse mundo, mas ele mesmo não tem ilusões quanto a isso. Os outros parecem dar mais importância do que ele mesmo. Bellow mistura o passado e o presente de Sammler com uma incrível
maestria, fazendo com que as lembranças de Sammler aflorem e revelem pouco a pouco o que ele viveu, mostrando ao leitor quem ele é e suas motivações. Ao contrário do que os que o cercam, Sammler conheceu a profundidade e não precisa buscar fortes emoções através do sexo, dinheiro ou atitudes insensatas. A geração do pós-guerra, perto dele, parece insana e perdida. O intervalo da vida de Sammler descrito no livro - um incidente com um batedor de carteiras, uma palestra a uma faculdade, o sobrinho e benfeitor hospitalizado e os problemas com sua filha e o livro do Dr. Lal - dá ao leitor uma sensação de desencaixe, de que Sammler não deveria ter que passar por essas coisas. Ele é o velho diante do novo, o introvertido num mundo de extroversão, o sofrido diante do fresco e pronto para viver, o filosófico diante das necessidades práticas. Ele é cada um de nós, sem solução, despreparados e com uma visão limitada para tudo o que a vida nos exige.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-42533666367796017492012-08-29T13:52:00.000-03:002012-08-29T14:46:24.196-03:00Justiça<div style="text-align: justify;">
A experiência tem-me mostrado que o meio mais rápido de obter justiça é fazer justiça ao adversário.</div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Gandhi/ Minha vida e minhas experiências com a verdade</span></div>
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Eu anotei essa frase porque ela me chamou atenção quando li o livro, há mais de dez anos, mas não sabia se concordava. Porque quando temos um inimigo, a vontade é de expor e maltratar. Pegarei o exemplo de algo indefensável: o caso da professora universitária que aliciou uma menor para uma sessão de sadomasoquismo. Está claro que foi ela e não tem como relativizar o ato. Se todos concordamos que é um ato abominável, vem daí o desejo de expor essa mulher, esse monstro, como uma espécie de vingança. Ao invés de mostrar a cara da professora em fotos comuns ou uma 3x4, a imprensa expõe as fotos que ela tirou nas suas sessões com o namorado: nua, amordaçada, com objetos na boca. Sem os olhos de quem está participando do jogo, reparamos nos defeitos, na qualidade das fotos, no ridículo. Ficamos espantados de ver uma mulher comum - madura, acima do peso, até com problemas de locomoção - fazer essas coisas. E quem vai se opor à exposição dessas fotos? Querer defender a privacidade desse conteúdo soa como aprovação ao aliciamento. Ela tirava fotos dos outros, punha em sites, aliciou uma menor, então tudo o que se fizer com a imagem dela parecerá pouco.</div>
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<div style="text-align: justify;">
Não sou advogada e não sei dizer que direitos essa mulher possui legalmente. Com meu olhar leigo, percebo que essas fotos: </div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
* <i>Fazem de uma crueldade pretexto para se cometer outra crueldade</i>. A mãe, irmãos e família que essa professora certamente tem também estão sendo atingidos. Ou será que ser parente de pedófilo também é crime?</div>
<div style="text-align: justify;">
* <i>Reforçam preconceitos</i>. É preciso separar as coisas: praticar sadomasoquismo não é sinônimo de pedofilia. Nem ser mulher, ser gorda ou ser professora universitária.</div>
<div style="text-align: justify;">
* <i>Aumentam a intolerância</i>. A superexposição desse tipo de caso tem um papel de alerta duvidoso. Já a comoção e as tentativas de linchamento já estão acontecendo.
</div>
</blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
São nos comportamentos desviantes - ou criminosos, ou doentios, ou chocantes - que nossa capacidade é testada. É muito fácil respeitar o que não nos incomoda. Tolerar a perda de direitos individuais é deixar crescer um tipo de atitude que pode se voltar contra nós mesmos. A história está cheia de exemplos de injustiças, de épocas de extrema intolerância, do terror que esse tipo de noção acarreta. Queremos um mundo melhor e o respeito a princípios fundamentais, mas o caminho para chegar até isso não é claro. Muito melhor é assumir o quanto nossa capacidade de julgar e punir de maneira proporcional é falha. Eu não sei o que merece quem machuca uma criança num sentido tão profundo: prisão, tortura, chibatadas, tudo isso junto? Seja lá o que for, essa professora deve ser punida pelo que fez - e tão somente pelo que fez. Que a punição dela não arraste consigo coisas que não tem a ver com seu crime e não dê espaço a outras atitudes, outros crimes. Porque essa é a justiça que gostaríamos que fosse aplicada a nós mesmos e que torna o mundo um lugar viável.</div>
Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-75157789176503367192012-08-23T21:59:00.000-03:002012-08-23T22:00:15.880-03:00Cidades fantasmas - a farsa do crescimento chinês<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/2yL7t0j_4tQ?fs=1" width="480"></iframe>
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Dica do <a href="https://www.facebook.com/rtaked">Ricardo Takeda</a>.Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-51603427200342282522012-08-17T16:28:00.000-03:002012-08-24T11:37:36.504-03:00Nós, robôs - datados<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKoOLjCqP7ecm3xgRvxMoKDoADALTKIMig6vcFlmKtC5Fx0OMPFC9VyPpmzx27TNxAHr3HhTO5Zict4OhMGANrGa3lPIbvHRoFUnM3H8e1dZoPm4S13ccGZR_Ayx91al92FQ-PCrVr/s1600/nos+robos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKoOLjCqP7ecm3xgRvxMoKDoADALTKIMig6vcFlmKtC5Fx0OMPFC9VyPpmzx27TNxAHr3HhTO5Zict4OhMGANrGa3lPIbvHRoFUnM3H8e1dZoPm4S13ccGZR_Ayx91al92FQ-PCrVr/s320/nos+robos.jpg" width="230" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O livro <a href="http://downloadlivrosgratis.blogspot.com.br/2010/01/isaac-asimov-nos-robos.html"><i>Nós, Robôs</i></a> me decepcionou um pouco, depois da expectativa criada pelo excelente <i>Eu, Robô</i>. <i>Nós, Robôs</i> é uma coletânea dos muitos contos sobre o tema robótica que Asimov escreveu ao longo dos anos. Lá estão os robôs da U.S. Robôs, a especialista em robopsicologia
Susan Calvin e os solucionadores de problemas Gregory Powel e
Michael Donavan. As histórias deles são as melhores, e aparecem repetidas nos dois livros - o que é muito chato quando a gente se propõe a
lê-los num curto espaço de tempo. No início, Asimov faz questão de nos informar que criou o termo <i>robótica </i>sem querer, porque na época dele não existia nem a necessidade do termo. Os livros dele são recheados de termos não existentes - uma necessidade quando se escreve ficção científica - e como esse trata de robôs o termo inventado onipresente da vez é <i>cérebro positrônico</i>. Cérebro positrônico é uma tecnologia que permite aos robôs ter cérebros semelhante ao dos humanos, só que eletrônico. Sua grande inovação tecnológica seria capacidade de aprender, embora a <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/2012/07/eu-robo.html">obediência às Três Leis da Robótica</a> os torne confusos às vezes. Por isso a necessidade de uma robopsicóloga.</div>
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<div style="text-align: justify;">
<i>Eu, Robô</i> consegue ser interessante e coerente, porque o ponto comum das histórias é investigar a maneira como robôs em interpretam e se adaptam aos três princípios. Sem esse fio condutor, <i>Nós, Robôs</i> evidencia duas noções à estranhas nossa época, e que considero datadas: computadores como grandes calculadoras e a recusa das pessoas comuns em lidar com robôs.</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
- Este computador que vêem à sua frente - ia dizendo ele - é o maior do seu tipo, no mundo. Contém cinco milhões e trezentos mil criotrons e é capaz de manipular simultaneamente mais de mil variáveis. Com sua ajuda, a U.S. Robôs pode projetar com precisão os cérebros positrônicos dos novos modelos.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Os requisitos são introduzidos por meio de fita, perfurada por meio deste teclado, algo como uma máquina de escrever super complicada, exceto que não mexe com letras, mas com conceitos. Os enunciados são divididos em seus equivalentes lógicos, e estes, em padrões perfurados.</div>
<div style="text-align: right;">
Lenny p. 309</div>
</blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
Como Asimov estava tentando projetar o futuro, ele não podia ter muita idéia de certos avanços tecnológicos. Os cartões perfurados são a tecnologia que se usava quando o conto foi escrito, nos anos 70, e foi uma revolução na época. Essa é a mesma tecnologia que a <a href="http://istoevip.terra.com.br/reportagens/39998_A+MAOZINHA+DA+IBM">IBM forneceu à Alemanha nazista</a> e permitiu a classificação dos judeus.</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
- As aplicações seriam infinitas, professor. O trabalho robotizado tem sido usado apenas para o alívio do esforço físico. E não há esforço mental supérfluo? Um professor, capaz do mais útil pensamento criativo, é forçado a passar duas semanas trabalhosamente conferindo as letras impressas; ofereço-lhe uma máquina que pode fazer o trabalho em trinta minutos. Isso é ninharia?</div>
<div style="text-align: right;">
Escravo p. 327</div>
</blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
Ler essas diferenças nos faz tomar consciência do avanço tecnológico que tivemos em poucas décadas. Meu irmão mais velho se interessava por computadores e ganhou um <a href="http://wesley-camargo.zip.net/images/tk85a.jpg">TK85</a> nos anos 80. O teclado tinha uns vinte centímetros e as teclas eram emborrachadas, nada ergonômicas. Eu não entendia como alguém podia se interessar por algo que dava tanto trabalho pra tão pouco resultado. Ele passava horas digitando 101010 pra conseguir fazer o desenho de uma árvore feiosa, mais ou menos assim:</div>
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<div style="text-align: center;">
............1...........</div>
<div style="text-align: center;">
..........111..........</div>
<div style="text-align: center;">
........11111........</div>
<div style="text-align: center;">
......1111111.......</div>
<div style="text-align: center;">
....111111111.....</div>
<div style="text-align: center;">
..111111111111..</div>
<div style="text-align: center;">
..........111..........</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
- (....) A ciência da automação certamente já atingiu o ponto em que a sua companhia poderia projetar uma máquina, um computador ordinário de tipo conhecido e aceito pelo público que corrigiria provas.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Estou certo que poderíamos, mas uma máquina assim exigiria que as provas fossem traduzidas em símbolos especiais ou, pelo menos, transcritas em fitas. Quaisquer correções emergiriam em símbolos. Precisariam manter gente empregada para traduzir palavras em símbolos, e símbolos em palavras. Ademais, um tal computador não poderia fazer nenhum outro trabalho. Não poderia preparar o gráfico que tem em mãos, por exemplo.</div>
<div style="text-align: right;">
Escravo p. 331</div>
</blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
De um lado você tem computadores que fazem muito pouco, e de outros robôs com aparência humanóide que podem simular até amor. Nesse contraste, as pessoas comuns das histórias mais antigas de Asimov resistem aos robôs e há todo um trabalho por parte da U.S. Robôs em mostrá-los confiáveis. Deve ser realmente um choque pra quem não tem contato com tecnologia se imaginar na frente se um ser humano de ferro. Hoje sabemos que não é assim porque estamos inseridos na tecnologia; nem ao menos temos como recusá-la ou temê-la. Com a visão que temos hoje sobre o assunto, os pressupostos de algumas histórias em <i>Nós, Robôs</i> não são mais válidos ou ficam até ridículos.</div>
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<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
- Máquinas de escrever e prensas removem alguma coisa, mas o seu robô privar-nos-ia de tudo. Seu robô assumiu as provas. Logo este ou outros robôs assumirão os originais, a pesquisa de material, a verificação cruzada de citações, talvez mesmo a dedução de conclusões. O que restaria ao estudioso? Só uma coisa: as decisões estéreis sobre que ordens dar ao robô seguir! Quero salvar as futuras gerações do mundo acadêmico de tal inferno. Isto significa mais para mim do que minha reputação, e assim parti para destruir a U.S. Robôs por quaisquer meios.</div>
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<div style="text-align: right;">
Escravo p. 354</div>
</blockquote>
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Tendo isso em vista, algumas histórias são muito interessantes e outras menos. Eu recomendaria <i>Nós, Robôs</i> apenas para fãs, para quem já foi conquistado por Asimov. Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-28120026469411663702012-08-12T10:32:00.001-03:002012-08-12T10:37:53.167-03:00Insignificantes no universo<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/l3QzdD7VBts?fs=1" width="459"></iframe>
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Obrigada, <a href="https://www.facebook.com/regina.celia.9883">Regina</a>.Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-41894347911525091662012-08-10T00:13:00.001-03:002012-08-10T00:19:47.863-03:00Cem páginas de Ulisses<div style="text-align: justify;">
Foi unicamente meu amor por <a href="http://caminhandoporfora.blogspot.com.br/#uds-search-results">Guimarães Rosa</a> que me levou a ler <i>Ulisses</i>. <i>Grande Sertão: Veredas</i> foi um dos livros que li com mais prazer na minha vida. O único inconveniente de ler Guimarães assim que nos aproximamos é a linguagem, que no começo assusta, mas se torna fluida e musical com um pouco mais de persistência. E eu sabia que essa persistência o <a href="http://charllescampos.blogspot.com.br/">Charlles</a> tem de sobra. Ele é um grande leitor, mas carregava consigo a teimosia de não ler Guimarães por ter resistência a autores brasileiros. Ao mesmo tempo, eu tinha uma resistência completamente auto-explicativa com relação a idéia de ler <i>Ulisses</i>. Um livro com mais de oitocentas páginas onde quase nada acontece. Famoso por entediar quase todos os que tentam se aproximar dele. Símbolo máximo da literatura que privilegia a forma <a href="http://www.sul21.com.br/blogs/miltonribeiro/2012/08/07/paulo-coelho-ulysses-de-james-joyce-e-prejudicial-para-a-literatura-bem-que-eu-desconfiava/">de acordo com o Paulo Coelho</a>. Usado largamente por intelectuais para se colocar acima dos leitores comuns. Eu jamais teria a iniciativa de ler algo assim normalmente.</div>
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<div style="text-align: justify;">
Mas tive, por amor ao Rosa. Desafiei publicamente o Charlles a ler <i>Grande Sertão: Veredas</i>, que eu no mesmo instante começaria <i>Ulisses</i>. Em outras palavras, cada um leria um livro que nunca quis ler, mas que era amado pelo outro. Como eu previra, <i>Grande Sertão</i> precisou de poucas páginas para mostrar ao Charlles o quão maravilhoso é. Eu, com <i>Ulisses</i>, comecei tão entediada que precisei encher muito o saco do <a href="http://www.sul21.com.br/blogs/miltonribeiro/">Milton</a> e fui liberada pelo Charlles de não cumprir minha parte no desafio. Minha resposta foi: lerei até a pagina cem. Darei essa chance, darei cem páginas para ser conquistada. Depois disso, verei o que fazer. Eu nem sabia que o Capítulo Cinco encerra na página 99 na edição que eu peguei, da editora Objetiva e tradução de Bernardina Silveira Pinheiro. Agora que li esses cinco primeiros capítulos estou pronta para dar minhas primeiras impressões.</div>
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<div style="text-align: justify;">
O livro me desagradou logo nas suas primeiras páginas. Eu senti falta de um como, onde e por que. Nunca havia me sentido uma leitora cartesiana e resistente a novas propostas como <i>Ulisses </i>fez comigo. Eu me lembrei d´<i>O Vermelho e o Negro</i> de Stendhal, que eu tentei ler duas vezes e nas duas desisti pelo mesmo motivo: no Capítulo Um o autor fala da cidadezinha onde a ação acontece, e descreve cada casa e cada família, todos os futuros personagens, como se fosse um passeio pela rua. Achei o recurso tão cansativo que logo após conhecer todo mundo desse jeito eu não queria saber de mais nada. Me parece que há uma evolução na construção de uma narrativa, onde elimina-se cada vez mais essas descrições desnecessárias. Ao invés de quase metade do livro de apresentações, igual Dostoiévski fazia, o leitor conhece o personagem junto com a história. No <i>Ulisses </i>esse corte ao desnecessário é tão grande que tive uma impressão de mutilação, como se ele tivesse cortado demais.</div>
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<div style="text-align: justify;">
Somos lançados à história. Estão todos conversando, pensando, atuando. Ninguém nos explica qual a forma de narrativa, quais personagens são essenciais, em que momento quem está pensando o quê. As falas dos personagens se misturam, porque não temos tempo de guardar quem é médico, quem ensina, quem vai ao enterro. Acho isso razão mais do que suficiente para fazer o leitor desistir. Não leia como quem lê um romance, tenha paciência, disse o Milton nas nossas conversas sobre <i>Ulisses</i>. Continuei a ler, tentando abstrair o fato de não estar entendendo nada. E descobri que é exatamente isso que o leitor precisa quando lê <i>Ulisses</i>: se deixar levar. É como se o livro não tivesse as páginas iniciais, como se ele cortasse aquela longa narrativa que nos faz entender a dinâmica da história e para ir direto à parte onde já lemos por prazer. A melhor explicação que consigo imaginar é a seguinte: sabe quando já somos tão íntimos e já gostamos tanto de alguém que apenas estar ao lado da pessoa, ou falar sobre qualquer besteira já é prazeroso? A relação que se precisa ter com <i>Ulisses </i>é a mesma. Acompanhe - James Joyce convida - os pensamentos, as idiossincrasias e coisas rotineiras desses personagens por si só. Sem ter pressa de chegar, apenas porque as coisas que eles vivem naquele momento podem ser interessantes.</div>
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<div style="text-align: justify;">
É tão interessante assim? Estou descrevendo o que é necessário e não dizendo que acontece naturalmente. É um exercício. Depois de um início sofrido, de pelo menos umas cinquenta páginas, comecei a entender qual é a do livro. Do tédio absoluto, me percebi sentindo algum prazer em ler umas passagens. Ainda não tenho certeza - será que isso já é orgasmo? se pergunta a mulher que nunca teve (uso uma metáfora sexual já que o livro parece apontar com persistência para esse caminho). Dizem que depois o livro fica ótimo, hilariante até. Eu nem ao menos consegui decidir se gosto do livro. Terei de ler mais cem páginas para decidir.</div>Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7732458919791459345.post-47834068071462581092012-08-09T15:02:00.001-03:002012-08-09T20:24:42.984-03:00Viver na floresta<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs-jxUu7Lg_bROUW-B1whrB0ZxgMkNEgG6tJpelxAza4kQWyeqM6SkoPBSnMyLM0ZQxtEu8G0875QkfBMGa0EOmIcoDmWU8DU5raa_sNF3cNJGQyNIe8I4XbhGSc0X-q2i2Dm2QErg/s1600/ramayana.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs-jxUu7Lg_bROUW-B1whrB0ZxgMkNEgG6tJpelxAza4kQWyeqM6SkoPBSnMyLM0ZQxtEu8G0875QkfBMGa0EOmIcoDmWU8DU5raa_sNF3cNJGQyNIe8I4XbhGSc0X-q2i2Dm2QErg/s320/ramayana.jpg" width="320" /></a></div>
O <i>Ramayana </i>é um dos livro religiosos hinduístas. Tem milhares de anos, é muito mais antigo que a Bíblia. Como texto religioso, ele tem servido até hoje como base para interpretações místicas e religiosas. Por conta dessas interpretações que eu - brasileira, nascida no século XX - decidi lê-lo. O início da história é muito interessante e me intrigou durante muito tempo. Peço desculpas antecipadas para aqueles que estudam o hinduísmo com profundidade, porque farei um resumo baseado nas minhas lembranças e cola de informações da internet:</div>
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<div style="text-align: justify;">
Havia um rei santo chamado Dasharatha. Por rei santo se quer dizer que ele era virtuoso, justo, sábio, forte, governava bem e todos a sua volta eram felizes. Seu primogênito, Rama, para muitos é considerado uma das encarnações divinas do deus Krishna. Assim como seu pai, era forte, justo, virtuoso, etc. Sua esposa, Sita, tem uma origem tão pura e divina que nasceu da própria terra. Só que o rei Dashratha era casado com três mulheres, e sua esposa mais jovem, Kaikeyi, cobra dele uma promessa feita por amor: o rei empenhou sua palavra que atenderia qualquer pedido que ela fizesse. O que ela lhe pede é que seu filho Bháratta (o caçula) se tornasse o próximo rei. Rama, o primogênito, deveria ser exilado do reino para evitar qualquer interferência; para deixar Bháratta governar, Rama deveria viver na floresta como ermitão durante quatorze anos. O pedido soa mal pra todos - o rei fica abatido, todos os ministros ficam contra, o próprio Bháratta condena a atitude de Kaikeyi, mas ela permanece irredutível. A história chega aos ouvidos de Rama, que por iniciativa própria decide abandonar o reino para manter a promessa feita por seu pai. Ele, sua esposa e um dos seus irmãos, Lakshmana, partem para a floresta. Mesmo quando o rei morre de desgosto e Bháratta vai atrás do irmão lhe pedindo para assumir o trono, Rama não volta atrás. </div>
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<div style="text-align: justify;">
O resto do livro narra as aventuras de Rama e os seus na floresta, o rapto de Sita, a aliança dele com outros reinos para recuperar a esposa, o surgimento de outra figura muito cultuada na Índia como símbolo de fidelidade e amizade- o deus-macaco <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Hanuman">Hanuman </a>- e a trágica separação de Rama e Sita (que mereceria um post). Apenas depois dos quatorze anos Rama retorna ao seu reino, cheio de glórias que ele conquista por conta própria durante esses anos.</div>
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<div style="text-align: justify;">
O que me intrigava nessa história era a importância da palavra do rei, a tal promessa que não podia ser quebrada. Eu achava - e as interpretações que eu li iam pelo mesmo caminho - que era uma questão de honra. Honrar a palavra empenhada. Mesmo que tenha sido uma promessa afetuosa, mesmo que a promessa tenha sido arrancada por um ardil, com finalidades torpes? Ao invés de ser um exemplo de retidão, isso me parecia um apego excessivo às palavras, privilegiar a forma e não o conteúdo. </div>
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<div style="text-align: justify;">
Passei muito tempo pensando que era isso. Um dia desses, sem motivos, me lembrei da história e percebi que a questão é muito mais profunda. Para a época que nós vivemos, nada no mundo pode ser mais importante que assumir um reino. Trabalhamos para ocupar a posição mais rica e de maior destaque. E fazemos isso com pressa, como se a menor distração ou atraso fosse ruim. Queremos ser reis para ontem. Com essa concepção de vida, o sacrifício de Rama não faz o menor sentido.</div>
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Nitidamente os personagens do Ramayana enxergam a vida de outra forma. Eles não têm a nossa pressa. Quem sabe para eles a vida fosse apenas um capítulo de uma ampla corrente de encarnações, então ela não tem importância. Ou a vida seja antes de tudo uma oportunidade de aprender, então largar tudo e ir pra uma floresta pode ser até melhor do que ficar no palácio. De qualquer maneira, isso me faz entender o quanto é difícil querer retirar do que foi escrito há muito tempo lições para os nossos dias. Longe das suas bases culturais, as atitudes podem perder todo o sentido - ou serem interpretadas de forma muito diferente da original.</div>Caminhantehttp://www.blogger.com/profile/02517577097349114098noreply@blogger.com0